Ainda a propósito do recente falecimento do ex-Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, Sr. José Gomes Palmeiro Costa

Ainda a propósito do recente falecimento do ex-Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, Sr. José Gomes Palmeiro Costa, gostaria de dar a conhecer aos meus leitores a intervenção que proferi na sessão da Assembleia Municipal de Estremoz do dia 2008/06/27, já lá vão quase dois anos, quando foi recusada, ao Sr. José Costa, a concessão da Medalha da Cidade de Estremoz, Grau Ouro.
Caros amigos, a memória não pode ser curta...
Como na altura disse “Sou daqueles que acham que as homenagens, aos homens bons, heróis ou notáveis, deverão realizar-se em sua vida, para que sintam quão os comuns dos mortais como nós, os admiram e lhes estão reconhecidos, pelas suas obras ou pelos seus actos, dignos ou ousados...”.
Infelizmente, José Costa foi mais um estremocense a quem não foi reconhecido, em vida, o trabalho, a benemerência e dedicação para com o próximo.
Aqui vos deixo a intervenção:
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Exma. Sra. Presidente da Assembleia Municipal

Exmo. Sr. Presidente da Câmara
Srs. Deputados Municipais e Srs. Vereadores
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Quando numa anterior Assembleia, me congratulei pelo reconhecimento a 3 ilustres estremocenses, agraciados com a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro, fi-lo e disse-o, por e na convicção “que são actos como esses que galvanizam os cidadãos e criam condições, para que coloquemos de parte, aquilo que nos divide (as divergências de opinião) e possibilitam que nos unamos, em torno de um projecto comum”.

E disse também que: “Sou daqueles que acham que as homenagens, aos homens bons, heróis ou notáveis, deverão realizar-se em sua vida, para que sintam quão os comuns dos mortais como nós, os admiram e lhes estão reconhecidos, pelas suas obras ou pelos seus actos, dignos ou ousados...”.

Nessa altura apesar de o pensar, não o disse, mas hoje digo também que, mal está a terra, a cidade, o concelho, a região ou o país, que não sabe homenagear condignamente e em vida os melhores dos seus filhos.

Não terá um projecto comum, nem história, nem identidade e não terá certamente futuro risonho.

A identidade de uma nação, de uma região ou de uma localidade, constroi-se na atitude e vivência dos homens, e nos actos relevantes por eles praticados, e transmite-se através da memória colectiva às gerações vindouras.

Quantos serão os que tendo elevado bem alto o nome de Estremoz ou dado muito do seu tempo, da sua dedicação, sacrifícios e muitas vezes do seu bolso, e Estremoz não reconheceu neles em vida, mérito, capacidade, exemplo e dedicação em prol da cidade, do concelho e dos outros concidadãos, para os agraciar ainda em vida?

Muitos terão sido certamente e dou o exemplo, de alguns que ainda penso estarem na memória da maioria dos presentes, mas que já não se encontram entre nós:
Dr. Assis e Santos, José Carlos Tristão Luna, Dr. Crujo, Dr. Paulo Lencastre, Engº Brito Tavares, Armando Alves (pai), Diamantino Godinho, Aníbal Falcato Alves, José Augusto Tabaquinho, Afonso Costa, Dr. Luís Rosado, Carmo Pequito, José de Alter, Eng. Jorge Anjinho, Nini Gonçalves, Padre Carmo Martins, e muitos outros.

A maioria nem sequer teve direito a ter o seu nome numa das ruas do concelho!...

Srs. Vereadores, Srs. Deputados Municipais

Não foi relevante para o concelho a passagem destes senhores, pelo mundo dos vivos?

Reconheço que alguns não poderão responder, por não serem contemporâneos da maioria dos focados.

Mas alguns de nós ainda se lembram do papel relevante para Estremoz e para os estremocenses, que estes tiveram ao longo da sua vida.

Quem se esqueceu do papel relevante que José Luna teve nas várias colectividades por onde passou, nomeadamente, Bombeiros e C F Estremoz?

Quantas milhares foram as consultas em que os Drs. Assis e Santos, Crujo, Paulo Lencastre, se recusaram a receber os devidos honorários, por saberem que os seus utentes não dispunham de capacidade financeira para comer, quanto mais para pagar a sua saúde e dos seus?

Quem não se lembra do papel que desempenharam, algumas das personalidades que indiquei (irmãos Alves, Diamantino Godinho, José Augusto Tabaquinho, irmãos Costa e muitos outros, alguns deles familiares de alguns dos presentes), na consolidação de projectos nas mais variadas colectividades do concelho e na ajuda aos mais necessitados, angariando comida, vestuário e calçado.

Lembram-se do almoço dos pobres, que se realizava, anualmente, nos “Encarnados”.?

Eu ainda me lembro, apesar de vagamente.

E o papel do polémico, mas dinâmico Carmo Pequito, na dinamização e divulgação cultural, desportiva e recreativa da nossa cidade.

Sabem quais foram durante várias décadas, os maiores marcas divulgadoras do nome de Estremoz?

Os Mármores de Estremoz, o Regimento de Cavalaria nº 3, o Sr. José de Alter e o Eng Brito Tavares e os seus ovinos.

Reconhecemos condignamente e em vida, o seu papel na sociedade estremocense?

Deixo a resposta à vossa consideração.

Srs. Vereadores

Vem tudo isto a propósito da recusa, por falta de unanimidade, na concessão da Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro, ao cidadão José Palmeiro Costa.

Admito perfeitamente, que não concordem com o político José Costa, mas sei perfeitamente, que sabem quem foi o cidadão José Costa?

Em questões desta natureza, não nos podemos restringir, à preocupação com o sentido de voto, quando o que está em causa, é o reconhecimento do papel relevante de um cidadão exemplar, em prol da colectividade.

Srs. Autarcas

Em política não vale tudo.

Quando se tomam decisões desta relevância é necessário, que a nossa consciência e o nosso sentido de justiça, estejam livres e desinibidos de preconceitos de qualquer natureza, que nos podem toldar uma qualquer decisão racional.

Com a falta de capacidade para reconhecer condignamente, o papel relevante de alguns em proveito de todos, continuaremos a não ter identidade, a não ter história e a ter um futuro toldado por erros grosseiros dos vários passados, que já passaram e hão-de passar.

A minha esperança é que este episódio, apesar de relevante, tenha sido apenas um pequeno percalço, no longo trajecto que é a vida do nosso todo colectivo.

Obrigado por me terem ouvido

Tenho Dito
José Capitão Pardal

John Philip Sousa - a diáspora portuguesa no mundo

Há muitas formas de aprender e uma delas estava quase esquecida para mim: a rádio. De facto, há muito que reservo à rádio apenas duas tarefas: ouvir notícias; e ouvir música (em geral quando viajo de carro). Ontem, enquanto percorria canais de rádio durante uma pequena viagem ouvi uma reprodução duma marcha militar que já havia ouvido dezenas de vezes: Stars and Stripes Forever.
O que eu não sabia e só ontem fiquei a saber é que o autor desta marcha era luso-descendente. John Philip Sousa nasceu em Washington em 1854, mas era filho de um português nascido em Espanha e, portanto, neto de portugueses de origem açoriana, os quais, segundo a nota biográfica que li, se refugiaram no país vizinho. John Sousa apelidava-se a si próprio "The March King" (O Rei das Marchas) e compôs inúmeras marchas militares, operetas e até os hinos de 4 universidades americanas. A ele se deve a criação do Sousafone, uma imensa tuba carregada ao ombro do músico, a qual visava o reforço dos graves nas suas marchas; e, bem assim, foi também um dos responsáveis pela grande divulgação do piccolo, um flautim que toca uma oitava acima da flauta comum e cujo som recorda o cantar de um rouxinol. (Na marcha abaixo reproduzida - uma reedição de 1931 de uma obra datada de 1909, inicialmente editada pela Thomas Edison Records - é bem audível o som do piccolo).
Enfim, isto pode não interesse nenhum mas achei curioso e... por pouco racional que isto possa parecer, fiquei de certa forma orgulhoso por o John Philip Sousa ser neto de portugueses que, por alguma razão que não descortinei, tiveram que se pisgar de Portugal. É o mesmo tipo de orgulho que sinto quando o Cristiano Ronaldo marca um golo pelo Real Madrid ou quando um estremocense - que não conheço nem conheço ninguém que conheça - vai treinar uma equipa rival da minha preferida.
O bairrismo e o nacionalismo pode ser irracional mas lá que existe, existe.


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MIETZ transformado em Associação Cívica?

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Há cerca de seis meses, mais precisamente no dia 11 de Outubro passado, o MIETZ – Movimento Independente por Estremoz, ganhou as eleições autárquicas.
Para muitos analistas, tratou-se dum efeito que passou desde então a ser designado por “Tsunami Mourinha”, o qual conseguiu congregar votos que no espectro partidário foram do BE ao CDS, com largas fatias arrancadas à CDU e ao PSD.
Para muitos desses analistas, tratou-se duma inequívoca vontade de mudança. Segundo eles, a população maioritariamente cansada da governação local PS, desenvolvida pela equipa de José Alberto Fateixa, fez um “manguito” aos partidos tradicionais que se apresentaram ao eleitorado e alinhou numa “vaquinha” com o MIETZ.
Durante algum tempo falou-se por aí que o MIETZ iria constituir-se em Associação Cívica com o mesmo nome. Associação Cívica com os seus Estatutos reconhecidos notarialmente, com os seus Objectivos Estatutários, a sua Direcção, a sua Mesa da Assembleia-Geral e o seu Conselho Fiscal. Seria uma forma de institucionalizar as pontes de entendimento entre os cidadãos que não se reviram na actuação dos partidos tradicionais. Seria ainda uma forma de aperfeiçoar a intervenção democrática, uma vez que os eleitos do M IETZ teriam que passar a prestar contas perante os Corpos Sociais da Associação Cívica a criar, tal como os eleitos pelos partidos tradicionais têm que prestar contas aos Órgãos de Gestão dos Partidos pelos quais foram eleitos.
Decorridos cerca de seis meses sobre as eleições autárquicas, ainda não se verificou a constituição da Associação Cívica “MIETZ”. Cremos que não terá sido uma vaga promessa eleitoral produzida numa altura em que tudo estava em “ponto de rebuçado”. Estamos mais inclinados a pensar que a ideia inicial apenas esmoreceu.
Longe dos “calores eleitorais”, a ideia não terá morrido, apenas terá ficado em “banho-maria”. O MIETZ resume-se assim neste momento aos eleitos, quando poderia ser muito mais.
Com o exercício do poder, no enleio de urdiduras e de tramas no nosso tecido social, há uma miríade de situações que levam os eleitos a dar golpes de rins, que muitas vezes não se enquadram na cartilha dos objectivos eleitorais.
O homem comum, afastado da dinâmica da participação cívica, deixa de vislumbrar a aura que encima a cabeça dos eleitos, os quais com o decorrer do tempo se tornam cada vez mais homens comuns.
A dinâmica interna dos movimentos é fruto do contra-ponto e do confronto amplo de ideias, que permitem delinear as linhas de força a seguir. Sem elas, movimentos como o MIETZ correm o perigo de esvair-se, bem como o risco inescapável de ficarem balizados no tempo, isto é, a sua eficácia ficar cingida a um único mandato autárquico. Nisso apostam CDU, PS e PSD, partidos do arco da governação autárquica estremocense, uma vez que a demora na constituição da Associação Cívica MIETZ lhes é lhes favorável. Por isso, CDU, PS e PSD agradecem a demora, reconhecidos e atentos, que não veneradores e obrigados.

Dia Mundial do Livro

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Por decisão da UNESCO, desde 1986 que a 23 de Abril é comemorado o Dia Mundial do Livro. Trata-se de uma data que merece alguma reflexão.
O desenvolvimento vertiginoso das novas tecnologias tem-nos legado múltiplos sucedâneos do livro cujo antepassado mais remoto e vulgarizado é o ebook. Disponível e facilmente acessível como poderão comprovar pela proliferação de bibliotecas e hemerotecas digitais que há por esse mundo fora.
Apesar disso, nada poderá substituir o prazer físico de ler um livro, folheá-lo, andando para trás ou para diante, sublinhá-lo, pôr-lhe uma ou mais marcas, escrever nele uma assinatura de posse ou até mesmo colar nele o nosso ex-líbris.
Um livro é um companheiro e um amigo das horas de solidão. É um timoneiro que nos conduz a bom porto. É um mestre mudo que fala dentro de nós. Por isso, apesar de todo o avanço tecnológico, os livros terão sempre um lugar muito especial, reservado nas nossas estantes e nos nossos corações.
Como homem de escrita, aproveito esta data para dar conhecimento aos que gostam de me ler, que tenho entre mãos o projecto de edição de um livro, a sair lá para o final do ano, se as contas não me saírem furadas. Trata-se de “METRALHA LIGEIRA”, uma colectânea de crónicas reunidas em seis grandes capítulos: 1 - Do Alentejo; 2 - De Estremoz; 3 - Da Arte; 4 - Dos Amigos; 5 - Do Humor; 6 - Da Infância e da Juventude;
Faço votos para que a concretização do meu projecto seja bem sucedida, além de que seja do vosso agrado. O tempo o dirá.


Há uns anos publiquei no jornal "Brados do Alentejo" o artigo de opinião que transcrevo abaixo, sobre a problemática da construção da variante a Estremoz (IP2).
Como o assunto, infelizmente, para "mal dos nossos pecados" ainda não se encontra resolvido (apesar de novas soluções já terem sido apresentadas e também chumbadas) e se mantem actual, eu tomo a liberdade de plagiar alguém que um dia disse: "Construam-me, porra!...".

A minha Opinião sobre...
Por José Capitão Pardal

IP2 – Variante a Estremoz

Duplamente Dividido, mas necessitado de uma Solução Rápida

Era eu uma criança..., quando há mais de 40 anos, presenciei o primeiro levantamento topográfico para, a já na altura, necessária Variante a Estremoz, à então Estrada Nacional 18. Estava então pensada para, no sentido de Portalegre, passar entre a Quinta do Carmo e as Quintinhas, indo desembocar no cruzamento para a Frandina.

O IP2 – Itinerário Principal nº 2, pretende ligar todo o interior, no sentido Norte-Sul e é uma das vias estruturantes, mais importantes do PRN – Plano Rodoviário Nacional, considerado prioritário pelo actual Governo e o traçado, entre Portalegre e Estremoz está concluído, há vários anos, até à entrada desta última, junto à Frandina.

Não sou indiferente à discussão desta questão, mas terei que confidenciar que me tenho mantido, duplamente dividido, primeiro entre o racional e o sentimental, e em segundo entre as condicionantes económico/ambientais e políticas.

Primeiro porque sou um dos milhares de Estremocenses, a quem a passagem da Estrada Nacional 18, no interior da cidade de Estremoz, causa imensos transtornos, pois passa junto a três Escolas, Centro de Idosos, Piscinas Municipais, Pavilhão Municipal, Centro de Emprego, Centro de Saúde e Urgências, etc., e a escassos 5 metros da minha cabeceira, facto que condiciona grandemente o descanso de todos, os que como eu, vivem nessas condições (o que não é negligenciável) e pretendem uma solução urgente, e porque me encontro, sentimentalmente, ligado ao último traçado projectado.

Não posso deixar de recordar com saudade, os tempos em que, ainda menino, “fiz” a primeira comunhão na Igreja de S. Brissos, “andei” aos espargos, às “alabaças” e aos “cardinhos”, “cacei” pardais e tordos, “matei” a sede na nascente da Tapada Grande, dormi a sesta à sombra de um “chaparro”, “comprei” cal no Forno e “atabefe” na queijaria da Granja, e já rapazola “colhi” amoras silvestres e namorisquei precocemente, na “Azinhaga” do Assentista.

Reconheço que, pessoalmente e nesta questão concreta, o sentimental levou vantagem sobre o racional e o desejo da continuidade de toda a envolvente, para que os vindouros possam usufruir daquilo que foram os impactos positivos na minha formação como homem (a natureza, o silêncio, o calor do Verão e o frio do Inverno, a paisagem, os passarinhos, as flores primaveris, os silvados, os montes isolados, os sobreiros e as oliveiras, etc.).

Naturalmente, que a vida não é só sentimento e teremos sempre de analisar todas as condicionantes dos problemas, que nos são colocados, suas vantagens e inconvenientes, para que consigamos posições o mais homogéneas e consensuais possíveis.

Reconheço que os impactos económicos e ambientais daquele traçado seriam de alguma monta, destacando os que afectariam sectores, com um futuro que se prevê muito competitivo, o vinhedo e o sobreiral, cuja valia económica para o concelho, país e cidadãos afectados (apesar das devidas indemnizações) seria significativa e de difícil substituição no imediato.

Sobre os impactos ambientais negativos e a sua dimensão, não posso deixar de salientar, o que afectaria o aquífero existente naquela zona, onde, nem nos Verões mais tórridos, faltava a água, a quem uma eventual construção da Variante afectaria sobremaneira.

Reconheço a justiça daqueles que, empresários afectados ou simples cidadãos, se organizaram, defenderam os seus interesses e obtiveram êxito, provando que, neste caso, a democracia funcionou.

Do ponto de vista político destaco que:
- As várias soluções de traçado da Variante, apresentadas pelas Estradas de Portugal (e suas antecessoras), ao longo dos tempos, foram sempre direccionadas no sentido Poente à cidade de Estremoz e a solução Nascente, nunca foi equacionada (desconheço porque razão).

- A construção do Nó de ligação à A6 (Auto Estrada Marateca-Caia) a poente coloca dificuldades acrescidas a uma solução a Nascente de Estremoz e é dificilmente defensável a construção de uma nova saída da A6, não só pelos custos presentes e futuros, mas também pela curta distância, entre as saídas de Estremoz e Borba.

- A Variante é de uma importância crucial para a Cidade, para a Região e para o País, a maioria dos estremocenses anseia pela sua urgente concretização, os poderes públicos (Câmara e Governo) têm mostrado vontade política para avançar, é necessário assegurar o seu financiamento, através de fundos estruturais do QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional) e concretizar o investimento até 2013.

- Os Impactos Negativos devem ser reduzidos ao mínimo.

- E tratando-se de uma questão crucial para todos, devemos sanar eventuais divergências de partida, mostrar vontade e determinação na concretização da solução encontrada, que sirva os cidadãos e dignifique a cidade.

Nesta questão e nesta altura do “campeonato”, em que a solução apresentada pela Estradas de Portugal, SA, foi definitivamente, “chumbada” pelas entidades competentes, tem a “palavra” a Estradas de Portugal, SA. que, após ouvir os estremocenses, as suas organizações e os seus órgãos de decisão política deve, com MUITA URGÊNCIA, apresentar as soluções adequadas, não repetindo os erros grosseiros do passado.


Obrigado por me terem lido.

Jornal E apresentado na Casa de Estremoz.

O JORNAL E, será apresentado publicamente, amanhã, dia 24 de Abril, pelas 11 horas, na Casa de Estremoz.
Estremoz dispôs até agora de dois jornais, o JORNAL ECOS e o velhinho BRADOS DO ALENTEJO, fundado por Marques Crespo e dirigido por Inácio Grazina.
Estremoz passa agora a dispor de 3 jornais. Para um concelho como o nosso, é obra!

Bonecos de Santo Aleixo na Junta de Freguesia de Santa Maria

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MIETZ inaugura sede

O MIETZ – Movimento Independente por Estremoz, vencedor das últimas eleições autárquicas neste concelho, inaugura amanhã, sábado, dia 24 de Abril, pelas 20 horas, a sua sede. Esta situa-se no Rossio Marquês de Pombal, no edifício da Misericórdia, nos altos da SAMOR.
A inauguração coincide com um plenário de eleitos, não é pública e só a eles se destina.

Início...


Foi com muita honra e com muito entusiasmo que aceitei o convite para colaborar neste blog. Na verdade, haverá coisa mais estimulante do que nos envolvermos em projectos que tenham como propósito pensar, discutir e projectar a nossa terra?

Considero ser de extrema importância o envolvimento das associações, dos partidos, das várias entidades da cidade e da região e, muito importante, de todos os cidadãos na "causa estremocense", é assim que lhe chamo. Não existem estremocenses de 1ª, nem estremocenses de 2ª. Cada cidadão da nossa cidade, com mais ou menos estudos, com mais ou menos idade, com mais ou menos presença em Estremoz tem o direito e diria mesmo o dever de se envolver na construção de uma cidade cada vez mais de futuro...

Porque cidadão é aquele sobre o qual recaem direitos e deveres, trabalhemos todos nesse sentido. Sempre com o respeito pelas ideias diferentes de cada um. Mas na verdade, devemos preservar sempre essa diversidade...

Para terminar, queria apenas relembrar que a origem etimológica da palavra política, vem precisamente de "polis", de cidade. Apesar de o descrédito ser grande, façamos então política! Trabalhar em prol da cidade é fazer política. Pensem nisso...

I Encontro de Bloggers, Webmasters e Facebookers do Concelho de Estremoz

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Numa iniciativa da Associação Filatélica Alentejana e com o apoio dos membros do blogue colectivo ESTREMOZ NET, tem lugar em Estremoz, no próximo dia 29 de Maio de 2010 (sábado), no Hotel Imperador, em Estremoz, o I Encontro de Bloggers, Webmasters e Facebookers do Concelho de Estremoz.
O Encontro visa o convívio entre todos aqueles que duma forma ou de outra, utilizam a comunicação “on line”.
O Encontro será iniciado pelas 10 h 30 min, por uma reflexão-debate centrada em problemáticas suscitadas pela comunicação “on line”, tais como:
- Liberdade versus responsabilidade;
- Anonimato e Identificação;
- Ética da comunicação;
- Propriedade Intelectual.
Para o efeito foram convidadas personalidades de âmbito nacional, que animarão o debate.
Pelas 13 horas terá lugar o almoço, aberto à participação de Bloggers, Webmasters e Facebookers do Concelho de Estremoz, bem como a seus convidados ou familiares. Ao almoço seguir-se-há animação cultural.
A participação no Encontro e no almoço faz-se mediante preenchimento de um impresso de inscrição e pagamento de 20 euros por pessoa.
Só serão consideradas as inscrições entradas até o dia 22 de Maio, acompanhadas do respectivo pagamento, o que pode ser efectuado por um dos processos referidos no Regulamento do Encontro.
O telefone e email da Comissão Organizadora são os seguintes:

Telefone 937 274 775 (Hernâni Matos)

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O 25 de Abril do Rui

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“CASAS E OUTROS” é uma Exposição a inaugurar no próximo dia 25 de Abril (domingo), pelas 16 horas, na Sociedade Recreativa e Dramática Eborense, na Avenida da Universidade – Zona de Urbanização, nº 3, em Évora.
Trata-se duma Exposição de Pintura do nosso conterrâneo e amigo Rui Simões Alves, que ainda recentemente expôs na Junta de Freguesia de São João de Brito , em Lisboa.
Estamos certos que, mais uma vez, nesta “vernissage” o Rui terá a seu lado muitos amigos que lhe querem testemunhar quanto apreciam o seu trabalho, o que é sempre estimulante.
Esta colectânea de trabalhos do Rui estará patente ao público em Outubro-Novembro, na Sala de Exposições da Associação Filatélica Alentejana no Centro Cultural de Estremoz.

Chegou a Primavera

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CHEGOU A PRIMAVERA !!! - Ilustração de Cristina Malaquias
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Uma das minhas facetas é ser persistente na pesca à linha. E normalmente quando faço um lançamento, apanho peixe.
Ontem, quis o Deus Acaso que desse com o blogue ANJOSIDRAGÕES, da minha amiga  Cristina Malaquias ,“Trinta e cinco anos a ilustrar muitos, muitos livrinhos para os meninos verem, gostarem...e lerem, espero. Qualquer dia conto mais, sobre mim, sobre o que faço, sobre os anjos e também sobre os dragões...” .
Da zona estremocense da Serra D’Ossa, a Cristina dedicou-nos ontem um post de natureza visual (ou não fosse ela ilustradora) intitulado “CHEGOU A PRIMAVERA !!!”. Trata-se de um post centrado no ressurgir da flora e da fauna campestre.
Sugiro que passem a acompanhar o seu blogue, bem como a admirarem as suas belíssimas ilustrações no site "A HISTÓRIA DO DIA".
Cristina Malaquias expôs em Junho-Julho de 2008, na Sala de Exposições da Associação Filatélica Alentejana, no Centro Cultural Dr. Marques Crespo, em Estremoz. Sobre ela escrevi então, com a mesma emoção que subscrevo hoje:
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A VISÃO MÁGICA DAS COISAS
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Um olhar fotográfico que regista a imagem e dela a forma, a volumetria, a medida, a profundidade, a cor, a textura, o contraste, a luminosidade e o brilho.
Um olhar analítico que cruza o ar, no espaço e no tempo e que, no acto visual de dissecar as partes de cada todo, procura nelas os elos de ligação, bem como as harmonias e os ritmos que as hão de reagrupar e reunificar na reconstrução dialéctica do todo.
Um olhar privilegiado que através da miríade de redes neuronais, funciona como um pantógrafo que pictograficamente transmite à mão dextra, o impulso nervoso que não é mais que o feedback visual do raio luminoso que impressiona a sua retina e a sua alma de Poeta.
Mão que empunha um lápis de cor com a mesma determinação olímpica do ganhão que lavra a Terra-Mãe para dela extrair o seu pão de cada dia.
Mãos solidárias e cúmplices com a folha de papel que tacteiam, exploram, afagam e fecundam, ora energicamente ora duma forma mais pausada, mas sempre com a doçura própria de quem ama.
Mãos que vibram como quem dedilha com mestria uma guitarra portuguesa e arranca dela o que de mais profundo tem o sentir da Alma do Povo.
Mãos que sofrem como o olhar ou o pensamento, pois doloroso é o Acto Criador.
Este é, em traços gerais, necessariamente simplificadores e redutores, o esboço tosco do perfil biográfico da ilustradora e desenhadora Cristina Malaquias.
A Artista desculpará a ousadia com que eu, recorrendo à alquimia das palavras, transmutei as emoções que o seu trabalho e Obra, em mim despertam. Mas doutra forma não poderia ter sido.
À Artista agradeço em nome do público, o ter partilhado connosco a beleza da sua visão mágica das coisas: o esvoaçar duma borboleta, o som do restolho pisado, a intensa claridade do sul que ora se acende, ora se apaga, que esse é o ciclo da Vida.
Obrigado, Cristina!
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Aviso à navegação

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Através do meu blogue, acederão facilmente a alfarrabistas, hemerotecas e bibliotecas digitais, como é o caso da BIBLIOTECA DIGITAL DO ALENTEJO.
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Memórias do Espírito Santo

Nasci no número 14 do Largo do Espírito Santo, em Estremoz, no dia 19 de Agosto de 1946.
Nos anos 50, os meus pais mudaram-se para uma casa da rua da Misericórdia, hoje inexistente, mas pelo Largo continuei a viver e a brincar em permanência até 1956, ano até ao qual fiquei na casa dos meus tios, situada no número 17. A vida e os fluxos humanos que por ali se processavam nos anos 40-50 são-me pois familiares.
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Fonte do Espírito Santo – Foto de J. Walowski – cerca de 1900.
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Convento dos Agostinhos – Foto de J. Walowski – cerca de 1900.
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Torre das Couraças – Desenho de Cruz Louro – 1939.
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A passagem do aguadeiro e do leiteiro, a passagem das lavadeiras para o Lavadouro Municipal, as carradas de lenha para a padaria do Beliz na rua da Levada, as entradas e saídas para a fábrica do Alves e Martins na Horta do Quiton, ao ritmo da sirene, as manobras mirabolantes dos camiões gigantescos da URMAL para conseguirem transpor os portões da Horta, as idas das meninas do asilo para a Escola Feminina do Caldeiro, assim como o trânsito dos carros de tracção animal, cuja passagem por ali era uma constante. A vida era muito, mas muito mais difícil do que é hoje. Ainda não havia água canalizada e muita gente não tinha iluminação eléctrica. Nas cozinhas, as mulheres trabalhavam com fornalhas a carvão ou fogareiros a petróleo e, de vez em quando, os bicos lá se entupiam devido às impurezas. A esmagadora maioria das casas não tinha casa de banho, tomava-se banho completo uma vez por semana, aos domingos, que era o dia de ver a Deus e os despejos, incluindo os dos penicos, faziam-se em pias, das quais muitas casas só tinham uma.
Não havia frigoríficos nem arcas congeladoras, nem supermercados, nem grandes superfícies, nem tão pouco sacos de plástico, pelo que os frangos nasciam no quintal de quem os tinha.
As idas ao talho e à praça do peixe eram por isso mais frequentes, desde que em casa houvesse dinheiro.
Nas idas ao mercado, levavam-se talegos, cestos de vime e canastras para transportar as compras. Quando se ia ao pão levava-se uma bolsa de pano. Nas mercearias, o grão, o feijão, o arroz, o açúcar, a farinha e o café eram vendidos a granel e embalados em cartuxos de papel. O sabão era vendido à barra, mas podia-se comprar qualquer quantidade que era embrulhada em papel de jornal. Para se comprar vinho, azeite ou petróleo, levava-se de casa uma garrafa provida da respectiva rolha.
Não havia Televisão e a Rádio era senhora e rainha com os seus folhetins, o futebol aos domingos e a Volta a Portugal em Bicicleta, que nos faziam vibrar com as proezas dos eternos rivais, Zé Maria Nicolau (do Benfica) e Alfredo Trindade (do Sporting).
A vida era dura, a Igreja Católica tinha uma influência muito maior na vida das pessoas que tem hoje e não se podia falar de política. Política só podia haver uma, a do único partido legal que era a União Nacional. Quem fosse contra isso, ia parar a Caxias como aconteceu ao carpinteiro José Lopes ou ao estofador Binadade Velez, meus amigos do tempo da outra senhora, seguramente aí desde os quinze anos. Nessa altura havia também quem se encarregasse de nos ensinar que a vida tinha que ser assim e ficarmos contentes com aquilo que segundo diziam, Deus nos deu.
Antes de em 1953, ir para a Escola do Caldeiro frequentar a 2º classe, andei na escola da Menina Teresinha, situada no nº 1 do Largo, nos baixos da casa onde morou o Poeta Sebastião da Gama. Do Largo ia obrigatoriamente para a catequese na Igreja de Santo André e para a formação nacionalista e paramilitar na Mocidade Portuguesa, na Rua da Cruz Vermelha. Na Igreja de S. Francisco fiz a Pimeira Comunhão, a Comunhão Pascal e a Solene, assim como o Crisma, tendo chegado a ensinar Doutrina aos mais novos, o que só foi perturbado com uma ruptura epistemológica aí pelos 12 anos, fruto da influência que a aprendizagem da História e das Ciências Naturais exerceram em mim e a que não terá também sido estranho, o convívio com dois velhos republicanos de 1910, o ferroviário Francisco Baptista, mais conhecido por Chico das Metralhadoras e o Cândido ferrador, combatente da guerra de 14-18, homem de grande corpanzil, que apesar de pacífico, dava apertos de mão como quem aperta uma tenaz. E se na Igreja tive algum êxito, ainda que efémero, até me tornar ateu, na Mocidade Portuguesa fui um completo atraso de vida, nunca passei da cepa torta, nunca passei de Lusito e nunca cheguei a Chefe de Quinas. Aquela coisa das formaturas e do marcar passo e do marchar e de fazer a saudação de braço levantado era uma grandessíssima chatice e eu não atinava com aquilo. Apenas me dava gozo a ginástica, o voleibol e o basquetebol. Mas o que é um facto, é que os tempos eram outros e as procissões e as paradas atraíam muito mais pessoas que hoje.
Grandes momentos na cidade eram as feiras como a de Maio ou Festas como as de Setembro.
No final dos ciclos de produção como as mondas, as ceifas ou a azeitona, circulava mais dinheiro pelas freguesias e pela cidade, mas em geral era tudo muito apertado, pois a maior parte do trabalho era sazonal, havia desemprego, salários de miséria e pior que tudo, tinha de se ter o bico calado.
Em alturas de crise era vulgar ver grupos de homens desempregados que iam de loja em loja, frente à qual um se destacava dentre os outros e descobrindo a cabeça, em sinal de humildade, pedia esmola em nome dos demais, agradecendo no final com um “Deus lhe pague”. Eu assisti a isso e sentia um nó no estômago.
Frente à Câmara e junto ao Café do Santos paravam os homens sem trabalho, sempre à espera de que alguém os contratasse, nem que fosse para uma única tarefa. Era então, bem amargo, o pão que Deus amassava.
No Adro do Largo do Espírito Santo funcionava a Sopa dos Pobres, que era para muitos a única tábua de salvação possível.
E esta era em traços gerais, a realidade nua e crua, não só no Largo do Espírito Santo como noutras zonas da cidade.
Permitam-me agora que vos conte algumas particularidades sobre a vida no Largo do Espírito Santo.
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Torre das Couraças – Foto de Rogério Carvalho – cerca de 1940.
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Ali havia um chafariz junto à fonte que ainda lá existe. Ali, eu e a miudagem do meu bando, chapinhávamos na água entre duas brincadeiras. O chafariz e a fonte eram o nosso regalo no pino do Verão. Nos anos sessenta, o chafariz foi sacrificado ao pseudo progresso, pois foi arrancado a fim de facilitar a circulação automóvel. Este foi um dos crimes de que primeiro me lembro terem sido cometidos nesta cidade. Hoje, o largo é um imenso parque de estacionamento e no local onde existia acolhedor um chafariz de água límpida, chegaram a jazer há anos, dois imundos contentores de lixo, ocupando praticamente o espaço que dantes era ocupado pelo chafariz. Tudo isto, repito, em nome do pseudo progresso.
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Largo do Espírito Santo, à entrada para a Rua da Levada – Foto de João Sabino de Matos – 1947.
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Imitação da Fonte – Foto de João Sabino de Matos - cerca de 1950.
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Normalmente passávamos a noite da missadura em casa da minha tia Estrela, no nº 17. Fazíamos o lume de chão para nos aquecermos e para grelharmos a chouriça, o lombinho e o toucinho das sete carnes. O pingo que escorria das missaduras era cuidadosamente aparado com nacos de pão. Até dava para nos lambermos a comer pão assim.
Por cima das nossas cabeças, o fumeiro – espécie de enfermaria para os enchidos – onde luzidias e gulosas chouriças, morcelas e farinheiras ficavam a curar, aguardando a sua vez da gente se poder repimpar com elas.
Ti Manel Alturas, o meu avô materno, tocava ronca e com a sua voz esganiçada, cantava:
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"Olha o Deus Menino
Nas palhas deitado,
A comer toicinho
Todo besuntado!"
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A mesa estava posta para o ritual da comezaina da noite. Pão caseiro, fruta da época, arroz doce e bolos que as mulheres atarefadas preparavam durante todo o dia. Ele era a boleima, o bolo podre, o bolo de laranja e as argolinhas que os mais crescidos empurravam com vinho doce ou com vinho abafado, depois de termos despachado a chouriça, o toucinho e os lombinhos. Tudo acompanhado com brócolos e regado com vinho da adega do Zé da Glória. E sabem o que vos digo? Não me lembro de alguma vez ter ouvido falar em colesterol.
Na lareira, crepitava o madeiro de Natal. Eu passava a noite a brincar ao pé do lume, a ouvir falar e cantar os mais velhos. Só saía dali cerca da meia noite quando me mandavam para a rua, ver o Pai Natal entrar pela chaminé. Durante muitos anos não consegui perceber a razão exacta pela qual, o bom do Pai Natal entrava precisamente na altura em que eu saía. Depois de ter percebido isto, os presentes minguaram a olhos vistos. Para vos falar disto é por que sei qual a diferença exacta que há entre os dois natais.
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Largo do Espírito Santo - Foto Tony – cerca de 1950.
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A Fonte do Espírito Santo – Desenho de Cruz Louro – 1939.
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Largo do Espírito Santo - Foto Tony – cerca de 1950.
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Os miúdos do Espírito Santo – foto de Manuel Gato – 1955.  No 1º plano e da esquerda para a direita: Armando Pereira, Manuel Maria Gato, Jorge (maluco) e António Maria Craveiro. No 2º plano e da esquerda para a direita: Zé (prima do Manuel Maria), Manuel (da avó), Rodrigo André (de mãos cruzadas), Hernâni Matos (com o braço à cintura), Maria Avelina Roma e Guilhermina Massano.
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Nesse tempo, eu e os putos como eu, íamos no Verão tomar banho ao tanque da galega, ali na rua do Lavadouro, junto à Fonte do Espírito Santo. Ora, como o tanque era um tanque de lavagem da roupa, muitas vezes tomávamos banho em água de sabão. Outros, mais afoitos, corriam riscos maiores e iam tomar banho aos charcos das pedreiras. Mas os mais audazes eram, os que de noite ou em pleno dia, iam tomar banho ao lago do Gadanha, mesmo nas barbas da polícia, que de chanfalho na mão se aproximava pronta a infligir castigo. E como era giro, ver os putos bater a sola, dar às de Vila Diogo e deixar os polícias para trás, rubros de raiva e impotência.
Vêm-me também à memória as fogueiras dos Santos Populares que se faziam no Largo do Espírito Santo e também na rua do Almeida, entre a Adega do Zé da Glória e a fábrica de refrigerantes do Massano. Se calhar todos sabem que a Adega do Zé da Glória era onde está hoje a Adega do Isaías. Provavelmente já lá foram comer burras assadas. Talvez não saibam é o que é um pirolito de berlinde. Pois eu e os putos como eu, homens que andam por aí hoje na berlinda, sabíamos bem o que era um pirolito de berlinde. Além de dar para arrotar depois de bebido, dava para jogar ao berlinde, pois claro! Nessa época não havia brinquedos com comando a distância, nem computadores, nem joysticks, pelo que jogávamos ao berlinde, aos amalhões, à mosca, à pateira, ao botão e ao peão, pois o software da época não dava para mais. E éramos felizes no território onde o nosso bando era rei e senhor e assim aprendíamos a ser homens.
Foi ali no Largo do Espírito Santo que ao brincar, vi o destemido bombeiro Mário, mobilizado pelo toque de fogo, vir lançado de bicicleta, rua do Mau Foro abaixo, na gáspea. Falta de travões ou curva mal feita, não sei. O que é verdade é que o bombeiro Mário já não foi apagar o fogo nesse dia. Impávido e sereno, o umbral do portão da Horta do Quiton, metera-lhe a testa para dentro, marcando-lhe o rosto para o resto da vida. Alguém terá dito a propósito: “ - Devagar se vai ao longe!”.
No nº 2 – 2º morava o poeta Sebastião da Gama, natural de Azeitão e que viera para Estremoz em 1950, como professor efectivo da Escola Industrial e Comercial de Estremoz e que estabeleceu uma forte ligação afectiva com a nossa cidade, patente nos seus Poemas e no seu Diário.
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Sebastião da Gama sofria de tuberculose renal, diagnosticada muito cedo e tinha consciência que ia ter uma morte prematura, por isso amou a vida e a natureza intensamente, o que se reflectiu nos seus escritos.
A 5 de Fevereiro de 1952 deixaria para sempre o Largo do Espírito Santo, 2 – 2.º, rumo ao Hospital de S. Luís dos Franceses, em Lisboa, onde viria a falecer após 2 dias de intensa agonia. Lembro-me desse fatídico dia 5 de Fevereiro de 1952, como se fosse hoje. Lembro-me de ele, meu vizinho, partir para uma viagem sem regresso.
Eu, hoje com 63 anos, um metro e noventa de altura e mais de cem quilos de peso, era um puto que usava bibe e andava numa Mestra, a Menina Teresinha, percursora das actuais Educadoras de Infância e que dava Escola no nº 1, nos baixos da Casa de Sebastião da Gama. Eu, que na época tinha veleidades ciclistas, andava de triciclo no passeio em frente da Casa de Sebastião da Gama, que me conhecia muitíssimo bem e que por vezes me fazia uma festa na cabeça, como se faz aos miúdos, sem maldade alguma.
Ainda guardo um desdobrável impresso a sépia com a sua foto e uma cabeça de Cristo crucificado, com poemas seus, que após a sua morte, foi oferecido aos amigos e aos vizinhos, em Sua Memória.
Hoje, estou aqui a falar dele e do Largo que ele tanto amava. Cinquenta e sete anos depois, é uma modesta, mas sentida evocação do puto ciclista que impunemente andava de triciclo frente à sua casa. E que ao contrário do que Veloso ouviu de Camões no Canto V dos Lusíadas, jura que nunca ouviu do Poeta o comentário. "Ouve lá, Hernâni amigo, este passeio é melhor de descer que de subir!".
É altura de terminar que a prosa já vai longa e a paciência dos leitores é inversamente proporcional ao tamanho do texto, pelo que para terminar pergunto:

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- “Quem é o espírito que acode ao Largo?”

Largo do Espírito Santo – Vista Geral da Fonte e do prédio derrocado – Foto de José Cartaxo - Maio de 2009.
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Largo do Espírito Santo – Vista à saída da Rua das Freiras - Foto de José Cartaxo - Maio de 2009.

Largo do Espírito Santo – pormenor do prédio derrocado – Foto de José Cartaxo - Maio de 2009.
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Também publicado no blog pessoal

Estremoz está mais pobre

Não acompanhei de perto a vida do Sr. José Costa. Aquilo que sei, foi-me contado por alguns amigos e conhecidos que várias vezes ouvi elogiar a sua conduta. Não convivi com ele de perto mas, pelo que me disseram, penso que se tratava de um homem que pensava nos outros antes de pensar em si.
Quero agradecer-lhe o que fez pelo "meu" CF Estremoz. Assisti, por diversas vezes, a Assembleias Gerais de um clube em que ninguém parecia querer pegar mas que ele nunca abandonou. Estremoz está mais pobre. Obrigado Sr. José Costa...

As Cinco Estações do Ano

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António Simões
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É sabido que sou um homem dado a colecções e que sou exigente naquilo que colecciono. Como é o caso dos Amigos.
Hoje vou falar-vos dum Amigo que segundo as suas próprias palavras:
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“Escreve poemas desde os dez anos e neles fala de insectos, pedras, flores, tremuras de alma ou do vento e de outras coisas do seu abcedário de ternura. Um dia, inventou uma barca para navegar pelas infinitas searas do amado Alentejo de sua infância e vai por elas fora por uma fresta aberta num poema e sabe que um dia chegará às praias de luz onde nasce o dia.”
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É um Amigo que, apesar de eu ser um coleccionador incorrigível, não troco por nenhum outro. É que as suas palavras fazem-me vibrar as cordas das emoções e ressoam-me por todo o corpo.
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Tenho muito orgulho nesse Amigo. Por isso, partilho Convosco um Poema desse meu Amigo, que decerto também será Amigo de muitos de Vós.
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O Nosso Amigo chama-se ANTÓNIO SIMÕES e são de AUGUSTO MOTA as Fotos que ilustram o Poema “AS CINCO ESTAÇÕES DO ANO”.
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Digam-me lá, se o Poema é ou não é uma Ode à Alegria?
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