FORAM-SE 1344!


A notícia saiu na última edição deste jornal, sem surpresa para mim, embora com tristeza a tenha lido, pois é o resultado duro, mas objectivo, do que não foi feito em prol do desenvolvimento de Estremoz.
O concelho de Estremoz perdeu 1344 habitantes em 10 anos! Nada que não fosse previsível em face dos sucessivos executivos camarários que nada fizeram para inverter a desertificação humana, a que vimos assistindo plácida e calmamente sentados, como quem vê passar o tempo.
Mas não são só os executivos camarários os culpados, porque o governo central também o é e de que maneira, pois a aposta na litoralização do país tem sido por demais evidente ao longo dos últimos anos.
Este resultado poderia ter sido invertido se tivessem sido tomadas as medidas necessárias para que tivéssemos crescimento no interior do país e, nomeadamente, no concelho de Estremoz.
Basta analisarmos o que foram as políticas traçadas pelos executivos camarários nos últimos dez anos para chegarmos à conclusão que tudo foi feito para que este resultado se tornasse inevitável, quando poderia ter sido, senão evitado, pelo menos minorado.
Nada foi feito em prol do desenvolvimento económico do concelho, na atração de empresas criadoras de riqueza que, permitissem criar expectativas de vida às pessoas e equacionar o seu futuro no concelho.
Preferiu-se o investimento em obras públicas de mais do que duvidosa rentabilidade e necessidade, em vez de se criarem as condições para que a iniciativa privada criasse riqueza. Muitas vezes afastaram-se interessados para que a Câmara não perdesse o poder e o controlo sobre as pessoas que dela dependem para ter um emprego.
Não se criaram as condições fiscais para incentivar as pessoas a não partir em busca de um melhor lugar que lhes dê perspectivas de futuro e realização profissional, obrigando-as a partir, na ânsia da necessidade momentânea de dispor de dinheiro para pagar despesa pública sem utilidade nenhuma.
Não conseguiram, até hoje, os sucessivos executivos camarários, traçar objectivos de médio longo prazo para inverter a desertificação humana do concelho de Estremoz, pelo que o resultado só poderia ser este. Tal como não quiseram abri-lo à iniciativa privada para não perderem poder.
Mas o desinvestimento e a total ausência de preocupação por parte do governo central quanto a esta questão foi determinante, abandonando à sua sorte todo o interior do país porque não lhe dá votos.
Pela primeira vez ouvi um Ministro das Finanças preocupar-se, a sério, com o interior do país, ao propor drásticas medidas fiscais de incentivo à inversão da desertificação, ao afirmar que o regime fiscal do interior deveria ser de metade em relação ao do litoral, isto é, a taxa dos impostos deveria ser de metade em relação à do litoral.
Foi imediatamente criticado pelos litoralistas e por todos aqueles que não perceberam o alcance e as consequências positivas da afirmação.
Haja alguém que perceba a destruição que tem sido feita ao interior de Portugal e que tenha a coragem de o afirmar publicamente com propostas drásticas para estancar esta hemorragia que sangra a olhos vistos há mais de dez anos.

Pensar a militância partidária

Está eleito o novo secretário-geral do Partido Socialista tendo a escolha da maioria dos militantes do PS que votou recaído em António José Seguro, o desfecho era esperado e não causa grande surpresa.
O preocupante nestas eleições do Partido socialista, que corresponderam ao que se passa em outros partidos da nossa democracia, foi o número de votantes, cerca de 35 mil, que correspondem grosso modo a 30% dos militantes do PS. Quando em causa estava a eleição do secretário-geral do maior partido da oposição, num acto em que não havia lista única, votarem somente 30 % dos 116 mil militantes do partido, deve ser motivo de reflexão sobre a participação dos portugueses na vida política e partidária.
Numa eleição em que o PS procura um novo caminho depois de 6 anos de governo os militantes alhearam-se deste acto? Os militantes estão insatisfeitos com a forma de actuação do PS e afastaram-se da militância? Poderíamos continuar a colocar uma série de questões e a todas elas poderíamos ir buscar uma resposta para as interrogações ou para o “ses” de tão baixa participação.
A real resposta pode ser muito mais profunda que a desilusão de uns quantos e o afastamento de meia dúzia. E significa que na realidade os militantes efectivos do Partido Socialista, como de outros partidos, não são hoje os que constam dos documentos oficiais. Este assunto daria pano para mangas, ou seja uma discussão interminável mas necessária.
Há a necessidade urgente, embora as nossas atenções estejam hoje voltadas para as questões económicas e para a grave crise financeira que se abate sobre a Europa, de rever todo o processo de adesão e de manutenção de militantes nos partidos, sob pena de vivermos uma ilusão de participação democrática nos partidos políticos em Portugal.