Ainda a Irlanda...


Após a resposta de João Miguel Tavares, Hugo Mendes volta ao tema relembrando alguns aspetos que considera incorretos e relançando o debate...

Espetacular nos argumentos coligidos e apresentados... e na correta explicação...
 
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por Hugo Mendes, em 24.11.13
 
João Miguel Tavares, respondeu ao meu post.
 
A propósito, umas breves notas:
 
1. Sobre os €28 mil milhões do ajustamento irlandês referidos no artigo do FT, está esclarecido o lapso cometido.
Longe de se tratar do valor total do corte na despesa, é o montante global que ascenderá o pacote de medidas que reduzem a despesa e aumentam a receita entre meados de 2008 e fim de 2013. Como é lógico, isto faz uma enorme diferença.
 
2. João Miguel Tavares considera a austeridade irlandesa mais "inteligente" porque cortou fortemente na despesa.
Continuo a achar a dicotomia "corte na despesa = bom / aumento de impostos = mau" perigosamente redutora.
A avaliação que fazemos da composição do ajustamento depende de inúmeras questões: para além daquelas de cariz normativo e ideológico, sobressaem as que dizem respeito às consequências económicas e sociais das escolhas de política orçamental - em particular, do valor dos multiplicadores que os cortes de despesa e o aumento de impostos assumem em economias tão diferentes como são a portuguesa e a irlandesa (esta, por depender menos da procura interna, sobrevive melhor a choques de austeridade), que serão muito provavelmente bem diferentes.
Aquilo que, mesmo sob um certo prisma favorável à austeridade, pode parecer "inteligente" numa economia pode ser particularmente "estúpido" noutra.
 
3. Na questão sobre se a Irlanda começou - de forma “inteligente” - a cortar na despesa, as coisas são um pouco mais complicadas do que João Miguel Tavares menciona.
O gráfico seguinte, retirado do relatório do FMI relativo à 11ª avaliação do programa irlandês, mostra como as medidas se distribuem entre o lado da despesa e da receita entre 2008 e 2013.
 
Embora as primeiras medidas – do lado da despesa – tenham sido tomadas (na segunda metade) de 2008, o ajustamento arranca verdadeiramente em 2009.
Começou pelo corte na despesa?
Não.
A primeira decisão do governo irlandês foi, no orçamento de 2009 (apresentado em outubro de 2008), a de aumentar quase todos os impostos sem praticamente tocar na despesa (imagem retirada deste documento).
 
 
Porém, o sério agravamento da economia nos meses seguintes obrigou o governo a mais dois pacotes de medidas separados apenas por dois meses.
No primeiro, em fevereiro (o 'The Financial Emergency Measures in the Public Interest Act 2009'), o governo avançou com um conjunto de medidas no valor de €2 mil milhões - agora bem mais assentes na redução de despesa.
É neste momento em que é feita a primeira redução no salário dos funcionários públicos (através da Pension-related deduction from the remuneration of public servants).
Dois meses depois, em abril, apresentou um orçamento retificativo para 2009, onde reforçou as medidas de consolidação - com as medidas de lado da receita a valerem mais do que as que visavam a redução de despesa (ver imagem retirada deste documento).
 
 
Foi preciso chegar a 2010, depois de quatro rondas de medidas (verão/2008; outubro/2008; fevereiro/2009; e abril/2009), para o governo preparar um orçamento quase só assente na redução de despesa - e mesmo assim os salários só valem €1000 milhões dos €4000 milhões de consolidação.
No discurso de apresentação do orçamento, o Ministro das Finanças diz que “we have reached the limit” [do aumento de impostos].
Ou seja: até este momento, a estratégia do governo irlandês parece ter sido a de, à medida que se sucediam as rondas de austeridade, ir reduzindo despesa e aumentando impostos. Não encontro aqui nenhuma predisposição nem estratégia para dar prioridade a um ajustamento concentrado na redução de despesa.
Curiosamente, no parágrafo seguinte sobre o "limite" do aumento de impostos, Brian Lehinan anuncia uma reforma do imposto sobre o rendimento para o ano de 2011, com o objetivo de alargar a base fiscal e, ao mesmo tempo, reforçar a progressividade.
 
Conclusão: em 2009, o corte na despesa teve a mesma dimensão que o aumento de receita; em 2010, a consolidação foi efetivamente maior do lado da receita – mas nos dois anos convém ter em conta que uma parte importante da redução de despesa é redução de despesa de capital.
Assim, na redução de despesa, 2/3 terá sido despesa corrente e 1/3 redução de despesa de capital (a Irlanda era em 2008, curiosamente para um "modelo liberal", o país do zona euro com mais investimento público em % do PIB, com um valor que era o dobro da média europeia: 5,3% vs. 2,6%; em 2013 este valor foi cortado para 1,8% do PIB, inferior à média da zona euro de 2,1%).
 
Resumindo, nas minhas contas de guardanapo a partir dos diferentes orçamentos, o corte na despesa corrente deverá valer perto de 40% dos €28 mil milhões de ajustamento, com o peso do corte de salários e pensões a representar cerca de 20% no total das medidas de consolidação na Irlanda.
Ora, entre 2011 e 2013, o peso dos cortes de salários e pensões nos €24 mil milhões em Portugal não me parece andar longe disto.
A diferença entre os dois países estará sobretudo no facto de a Irlanda ter comprimido brutalmente o investimento público, enquanto que Portugal aumentou a carga fiscal, sobretudo o IRS (que sempre garante alguma progressividade no esforço).
 
Sublinho, porém, aquela que me parece ser a ideia fundamental: mais do que a composição do ajustamento, a diferença essencial entre o que se passou em Portugal e na Irlanda é que se retiraram €24 mil milhões a uma economia mais dependente da procura interna em apenas 3 anos e €28 mil milhões a uma economia mais aberta ao exterior ao longo de 5 anos e meio.
Sobretudo, no decurso do PAEF irlandês não se duplicou a austeridade: o plano inicial de redução de despesa/aumento de impostos foi razoavelmente seguido e ninguém foi "além da troika".
 
4. João Miguel Tavares pergunta sobre o impacto dos apoios ao sistema financeiro nos défices orçamentais em Portugal.
Há uns meses, a Comissão Europeia fez precisamente essas contas nesta publicação.
Os dois gráficos seguintes, dela retirados, mostram o impacto orçamental entre 2008 e 2011, primeiro, e o impacto em 2012, depois:
 
 
Assim, ao contrário do que tipicamente se pensa quando se evoca o BPN, BPP, etc., vemos que a recapitalização da banca pesou relativamente pouco nos défices dos últimos anos em Portugal. 2010 foi o ano mais penalizado: o défice ficou nos 8,5% em vez dos 9,8% se descontarmos o apoio à banca. Em 2011 e 2012 (bem como acontecerá em 2013, com a recapitalizaçao do BANIF), o défice foi penalizado em cerca de meio ponto percentual do PIB.
 
5. Na medida em que uma das questões do artigo original de João Miguel Tavares era sobre se a Irlanda se tinha sabido "defender" melhor perante as instituições internacionais, vale a pena lembrar o que aconteceu no início de 2013, que foi, na prática, uma reestruturação da sua dívida pública.
Em fevereiro passado, o Governo conseguiu uma troca de dívida que consistiu na substituição das notas promissórias emitidas (num total de €25 mil milhões) em 2010 para recapitalizar dois bancos e que eram detidas pelo Banco Central irlandês por uma emissão de títulos de longo prazo com maturidade média de 34-35 anos. Esta notícia resume o impacto nas finanças irlandesas:
 
"Segundo o documento divulgado pelas Finanças haverá uma redução das necessidades de financiamento na ordem de 2,3 mil milhões de euros no primeiro ano seguida de 20 mil milhões no conjunto dos dez anos seguintes. Ou seja, uma redução importante da necessidade de ir ao mercado primário emitir dívida para cumprir o pagamento de uma tranche anual de 3,1 mil milhões mais juros que se estendia até 2023, com um valor residual de 2,8 mil milhões a pagar em 2024 e 2025. O custo total das promissórias - capital e juros - subia a 47 mil milhões de euros. "


 
Como escrevia o FMI no relatório relativo à 9.ª avaliação do PAEF irlandês (pág.5): "Ao reduzir as necessidades de financiamento na próxima década em cerca de 1,3% do PIB por ano, esta transação ajudará o regresso da Irlanda ao financiamento de mercado".
Ao mesmo tempo, permite que o orçamento poupe, pelo menos até 2018, €1000 milhões/ano (ver gráfico retirado do mesmo relatório, pág.13).
  
 
 
Poucos se lembrarão hoje desta reestruturação da dívida irlandesa.
Só para comparar, €1000 milhões foi quanto valeu o corte de salários dos funcionários públicos irlandeses em 2010.
 
6.  A ideia de que os irlandeses cortaram valentemente na despesa é a explicação muitas vezes implícita para o caso de “sucesso” em que a Irlanda se transformou, agora confirmado na decisão de o país ter optado por um “corajoso” regresso aos mercados sem o apoio de um programa cautelar (esta continua a parecer-me uma historia mal contada, mas isso é tema para outra conversa).
 
Antes disto, o "sucesso" era medido pelo regresso ao crescimento económico desde 2011. Já sabemos que o PIB é um mau indicador para avaliar a riqueza irlandesa, e que o Produto Nacional Bruto (PNB) é mais rigoroso, por expurgar o efeito de repatriação dos lucros das multinacionais (responsável pelo conhecido por efeito soufflé que insufla o PIB; em finais dos anos 80, o PNB irlandês valia 97% do PIB, enquanto que no início dos anos 2000 valia apenas cerca de 80%).
 
Se o PIB cresceu 2,2% em 2011, estagnou nos dois anos seguintes: variou 0,2% em 2012 e estima-se que cresça apenas 0,3% em 2013. Por isso, como o gráfico seguinte mostra, embora ainda muito abaixo do valor de 2008, o PIB (real) estará no fim de 2013 acima do valor de 2009. 
 
 
O que aconteceu ao PNB? Em 2014 estará, segundo as estimativas, ainda €3 mil milhões (2%) abaixo do valor de 2009
A divergência entre o PIB e o PNB não é tão ampla em Portugal (o rácio entre o PNB e o PIB é cerca de 0,95), mas se fizermos o mesmo exercício vemos que se estima para 2014 que a pequena subida do PIB não seja acompanhada pelo PNB, que continuará a cair.
 
  
 
Esperemos que, no caso de Portugal, a “retoma” seja mais robusta e evidente que a irlandesa. Se o caso irlandês é um “sucesso”, significa que nos congratulamos com uma situação de prolongada estagnação.

Sobre a comparação entre o Ajustamento de Portugal e da Irlanda

A Net tem destas coisas... maravilhosas...
 
Hoje dei com este texto, que é uma lição para todos os que apenas conseguem ver um palmo à frente do nariz e não vão ao fundo das questões, transmitindo apenas o que lhes colocam em cima da secretária da redação...
 
Parabéns Hugo Mendes...

Sobre a Irlanda (ou como não fazer comparações)

por Hugo Mendes, em 21.11.13
 
João Miguel Tavares escreve hoje no “Público” uma crónica comparando o ajustamento na Irlanda e em Portugal:  
 
“A Irlanda reduziu o seu défice de 30,6% em 2010 para 7,3% (estimativa) em 2013 e quer atingir 5,1% em 2014. Estamos a falar de um esforço muitíssimo mais violento do que o português — uma queda de 25,5 pontos percentuais. Segundo o Financial Times, os cortes na despesa irlandesa desde 2008 já ascendem a 28 mil milhões de euros. O défice português em 2010 foi de 10,2%, e aquilo que se pretende é que ele venha a ser de 4% em 2014 — ou seja, uma diminuição de 6,2 pontos percentuais, quatro vezes menos do que a Irlanda.”
 
Imagino que o João Miguel Tavares tenha sido atraiçoado pelo jornal em causa,  mas estes números dificilmente fazem algum sentido.
 
Vamos por partes.
 
Primeiro, o défice orçamental de 2010 na Irlanda só atingiu os 30,6% porque o Eurostat obrigou o país a registar o apoio extraordinário concedido ao setor financeiro nesse ano.
 
Sem este efeito extraordinário, o défice teria sido de 10,6% do PIB.
 
Isto pode ser visto em qualquer relatório do PAEF irlandês feito pelo FMI ou pela Comissão Europeia. 
 
 
 
Veja-se, já agora, como a redução do défice tem sido lenta na Irlanda.
 
Por exemplo, entre 2012 e 2013 o défice – ainda a níveis altíssimos - praticamente não se moveu: passará de 7,6% para 7,5%, e isto num contexto que, não sendo de “crescimento” económico que se veja – cresceu 0,2% em 2012 e a Comissão Europeia estima que cresça apenas 0,3% em 2013 -, também não é de recessão como em Portugal (o que dificulta mais a consolidação).
 
Isto não me parece um desempenho exemplar.
 
Quanto ao alegado corte de 28 mil milhões na despesa, a única explicação que encontro para este valor é um cálculo absurdo: o contabilizar o fim do efeito na despesa pública do apoio à banca – que causou o défice grotesco de 30,6% em 2010 -  como "redução de despesa".
 
Em caso contrário, não vejo sinceramente onde está esse brutal corte de despesa.
Vejamos o gráfico seguinte, que mostra a evolução da despesa nominal total na Irlanda: "despesa total", "despesa corrente", despesas com "investimento" e outra "despesa de capital".
Podia ter reunido estas duas em "despesas de capital", mas deixo os itens separados para se perceber o que se passou.
No que toca à despesa corrente, ela praticamente não se mexeu: era 64,3 mil milhões em 2008, no ano em que chega a crise, e será de 65 mil milhões no fim de 2013.
Isto não quer dizer que não tenha havido cortes efetivos (ver abaixo).
 
Quer dizer apenas que a Irlanda não teve uma queda da despesa nominal, e que é improvável que tenha havido cortes da ordem dos €28 mil milhões.
 
 
Em segundo lugar, para além do expectável corte de mais de €6,5 mil milhões na despesa com investimento, o comportamento atípico está na rubrica «outra despesa de capital», onde está contabilizado o apoio extraordinário ao setor financeiro.
É esta a chave para perceber a ideia (falsa) de que a Irlanda «reduziu a 28 mil milhões de despesa» desde 2008.
 
Já que falamos de medidas de consolidação orçamental, vale a pena olhar para a composição destas nos anos que vão de 2011 a 2013, os do PAEF irlandês (o gráfico consta do relatório do FMI da 11ª revisão regular do programa, pode encontrá-lo aqui).
 
 
 
Repare-se que se é verdade que o programa previa uma maior redução de despesa do que aumento de receita, também é verdade que, no que toca à «despesa corrente» (a verde) – e quando se saliva por cortes na despesa, é da despesa corrente (i.e., de salários e pensões) que se fala -, ela vale precisamente o mesmo valor relativo ao aumento da receita (a amarelo): €5 mil milhões.
 
Vale também a pena comparar o esforço feito pela Irlanda ao longo deste três anos – contabilizam-se €13 mil milhões em medidas de consolidação – com o realizado por Portugal no mesmo período. Recuperando um célebre gráfico usado por Vítor Gaspar em março passado…
 
 
…vemos que, em 3 anos, as medidas de consolidação em Portugal – um país onde o peso da procura interna no PIB é superior, sendo por isso mais vulnerável aos efeitos recessivos da redução de despesa - atingiram quase €24 mil milhões, não muito longe do dobro do esforço irlandês.
 
Se o ajustamento foi "violentíssimo", não sei bem como qualificar o português.
 
É verdade que os irlandeses começaram a ajustar a meio de 2008, dois anos antes de Portugal (lembram-se do PECI?).
 
Ainda estou a tentar contabilizar quanto valeram as medidas nesses 2 anos e meio que antecederam o PAEF irlandês, mas não vejo como possa ser possível chegar €28 mil milhões de cortes na despesa sem recorrer ao artifício jornalística e politicamente desonesto de contabilizar nestes cálculos o valor usado para recapitalizar a banca em 2010.
 
Ah, é verdade, os irlandeses cortaram salários aos funcionários públicos.
 
Sobre isto, vale a pena dar três notas:
 
1) A Comissão Europeia publicou recentemente um estudo sobre as diferenças salariais entre o setor público e o setor privado, com dados para os anos de 2006 e 2010.
Portugal faz parte do grupo de países onde o prémio salarial da função pública é mais elevado: 11,9% (atenção, isto são dados de 2010, antes do corte médio de 5% para salários a partir de €1500 inscritos no OE2011, e, claro, dos cortes subsequentes; curiosamente, a Alemanha também faz parte deste grupo: o prémio salarial da função pública era em 2010 de 10%).
 
Ora, como se comporta a Irlanda nesta questão ?
A Irlanda era em 2010 (e não sei se os cálculos já integram os cortes feitos nesse anoa os funcionários irlandeses) o país onde o prémio salarial da função pública era o mais elevado de toda a UE: 21,2%.
 
2) Entre os anos 2000 e 2008, antes da crise internacional virar as economias de pernas para o ar, as diferenças que existiam entre Portugal e Irlanda quanto ao peso percentual das «despesas com pessoal» no PIB foram anuladas.
Enquanto em Portugal, o país onde alegadamente o Estado gastou como se não houvesse amanhã, as despesas com pessoal baixaram de 13,7% para 12% do PIB (uma redução de 12%) nesse período, na Irlanda, esse Estado prudente e poupado, as despesas com pessoal aumentaram 40% (de 8,4% para 11,8% do PIB).
 
  
 
3) Claro que podemos sempre dizer que a Irlanda tem funcionários públicos excecionalmente bem pagos porque ele são poucos.
O que nos dizem sobre isto os dados do recente «Government at a Glance 2013» da OCDE ?
 
Três coisas:
- que Portugal baixou a percentagem de funcionários públicos na população ativa entre 2001 e 2011;
- que os valores para Portugal são nestes dois anos inferiores à média da OCDE (e da Irlanda);
- e que a Irlanda não só aumentou a percentagem de funcionários entre 2001 e 2011, como passou de uma posição em que estava abaixo da média da OCDE em 2001 para uma posição acima da média em 2011.
 
Para fazer uma comparação séria entre o ajustamento nos dois países, convém levar em linha de conta todos estes elementos.
 

A Segurança Social...

Vou reavivar a memória de alguns, que ou se esqueceram ou não sabem o que dizem, quando falam no assunto, com este artigo do professor aposentado, José Manuel Catarino Soares, que nos diz muitas verdades sobre o tema...
 
Se fossemos fazer bem as contas da Segurança Social veríamos que quem deve a quem é o Estado à Segurança Social, no seu conjunto, e seriam certamente, algumas centenas de mil milhões de euros.
 
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Carta Aberta

OLHOS NOS OLHOS

Exma. Sra.
Dra. Judite de Sousa


O programa Olhos nos Olhos que foi hoje para o ar (14.10.2013) ficará nos anais da televisão como um caso de estudo, pelos piores motivos.


Foi o mais execrável exercício de demagogia a que me foi dado assistir em toda a minha vida num programa de televisão.
O que os senhores Medina Carreira e Henrique Raposo disseram acerca das pensões de aposentação, de reforma e de sobrevivência é um embuste completo, como demonstrarei mais abaixo. É também um exemplo de uma das dez estratégias clássicas de manipulação do público através da comunicação social, aquela que se traduz no preceito: «dirigir-se ao espectador como se fosse uma criança de menos de 12 anos ou um débil mental».

Mas nada do que os senhores Medina Carreira e Henrique Raposo dizem ou possam dizer pode apagar os factos.
Os factos são teimosos.
Ficam aqui apenas os essenciais, para não me alargar muito:

1. OS FUNDOS DO SISTEMA PREVIDENCIAL da Segurança Social (Caixa Nacional de Aposentações e Caixa Geral de Aposentações), com os quais são pagas essas pensões, NÃO PERTENCEM AO ESTADO (muito menos a este governo, ou qualquer outro).
Não há neles um cêntimo que tenha vindo dos impostos cobrados aos portugueses (incluindo os aposentados e reformados). PERTENCEM EXCLUSIVAMENTE AOS SEUS ACTUAIS E FUTUROS BENEFICIÁRIOS, QUE PARA ELES CONTRIBUIRAM E CONTRIBUEM DESCONTANDO 11% dos seus salários mensais, acrescidos de mais 23,75% (também extraídos dos seus salários) que as entidades empregadoras, privadas e públicas, deveriam igualmente descontar para esse efeito (o que nem sempre fazem [voltarei a este assunto no ponto 3]).

2. As quotizações devidas pelos trabalhadores e empregadores a este sistema previdencial, bem como os benefícios (pensões de aposentação, de reforma e sobrevivência; subsídios de desemprego, de doença e de parentalidade; formação profissional) que este sistema deve proporcionar, são fixadas por cálculos actuariais, uma técnica matemática de que o sr. Medina Carreira manifestamente não domina e de que o sr. Henrique Raposo manifestamente nunca ouviu falar. Esses cálculos são feitos tendo em conta, entre outras variáveis, o custo das despesas do sistema (as que foram acima discriminadas) cujo montante depende, por sua vez — no caso específico das pensões de aposentação, de reforma e de sobrevivência — do salário ou vencimento da pessoa e do número de anos da sua carreira contributiva.
O montante destas pensões é uma percentagem ponderada desses dois factores, resultante desses cálculos actuariais.

3. Este sistema em nada contribuiu para o défice das contas públicas e para a dívida pública. Este sistema não é insustentável (como disse repetidamente o senhor Raposo).
Este sistema esteve perfeitamente equilibrado e saudável até 2011 (ano de entrada em funções do actual governo), e exibia grandes excedentes, apesar das dívidas das entidades empregadoras, tanto privadas como públicas (estimadas então em 21.940 milhões de euros) devido à evasão e à fraude contributiva por parte destas últimas.
Em 2011, último ano de resultados fechados e auditados pelo Tribunal de Contas, o sistema previdencial teve como receitas das quotizações 13.757 milhões de euros, pagou de pensões 10.829 milhões de euros e 1.566 milhões de euros de subsídios de desemprego, doença e parentalidade, mais algumas despesas de outra índole.
O saldo é pois largamente positivo. Mas o sistema previdencial dispõe também de reservas, para fazer face a imprevistos, que são geridas, em regime de capitalização, por um Instituto especializado (o Instituto de Gestão dos Fundos de Capitalização da Segurança Social) do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social. Ora, este fundo detinha, no mesmo ano de 2011, 8.872,4 milhões de euros de activos, 5,2% do PIB da altura.

4. É o aumento brutal do desemprego (952 mil pessoas no 1º trimestre de 2013), a emigração de centenas de milhares de jovens e menos jovens, causados ambos pela política recessiva e de empobrecimento deste governo, e a quebra brutal de receitas e o aumento concomitante das despesas com o subsídio de desemprego que estes factos acarretam, que está a pôr em perigo o regime previdencial e a Segurança Social como um todo, não a demografia, como diz o sr. Henrique Raposo.

5. Em suma, é falso que o sistema previdencial seja um sistema de repartição, como gosta de repetir o sr.Medina Carreira.
É, isso sim, um sistema misto, de repartição e capitalização.
Está escrito com todas as letras na lei de bases da segurança social (artigo 8º, alínea C, da lei nº4/2007), que, pelos vistos, nem ele nem o senhor Henrique Raposo se deram ao trabalho de ler.
É falso que o sistema previdencial faça parte das “despesas sociais” do Estado (educação e saúde) que ele (e o governo actual) gostariam de cortar em 20 mil milhões de euros.
Mais especificamente, é falso que os seus benefícios façam parte das “prestações sociais” que o senhor Medina Carreira gostaria de cortar.
Ele confunde deliberadamente dois subsistemas da Segurança Social: o sistema previdencial (contributivo) e o sistema de protecção da cidadania (não contributivo). É este último sistema (financiado pelos impostos que todos pagamos) que paga o rendimento social de inserção, as pensões sociais (não confundir com as pensões de aposentação e de reforma, as quais são pagas pelo sistema previdencial e nada pesam no Orçamento de Estado), o complemento solidário de idosos (não confundir com as pensões de sobrevivência, as quais são pagas pelo sistema previdencial e nada pesam no Orçamento do Estado), o abono de família, os apoios às crianças e adultos deficientes e os apoios às IPSS.

6. É falso que o sr. Henrique Raposo (HR) esteja, como ele diz, condenado a não receber a pensão a que terá direito quando chegar a sua vez, “porque a população está a envelhecer”, “porque o sistema previdencial actual não pode pagar as pensões de aposentação futuras”, “porque o sistema não é de capitalização”.
O 1º ministro polaco, disse, explicou-lhe como mudar a segurança social portuguesa para os moldes que ele, HR, deseja para Portugal.
Mas HR esqueceu-se de dizer em que consiste essa mirífica “reforma”: transferir os fundos de pensões privados para dentro do Estado polaco e com eles compensar um défice das contas públicas, reduzindo nomeadamente em 1/5 a enorme dívida pública polaca.
A mesma receita que Passos Coelho, Vítor Gaspar e Paulo Portas aplicaram em Portugal aos fundos de pensões privados dos empregados bancários! (para mais pormenores sobre o desastre financeiro que se anuncia decorrente desta aventura polaca, ver o artigo de Sujata Rao da Reuters, «With pension reform, Poland joins the sell-off», 6 de Setembro de 2013, http://blogs.reuters.com/ globalinvesting/2013/09/06/with-pension-reform-poland-joins-the-sell-off-more-to-come/; e o artigo de Monika Scislowska da Associated Press, «Poland debates controversial pension reform», 11 de Outubro de 2013, http://news.yahoo.com/poland-debates-controversial-pension-reform-092206966--finance.html).
HR desconhece o que aconteceu às falências dos sistemas de capitalização individual em países como, por exemplo, o Reino Unido.
HR desconhece também as perdas de 10, 20, 30, 40 por cento, e até superiores, que os aforradores americanos tiveram com os fundos privados que geriam as suas pensões, decorrentes da derrocada do banco de investimento Lehman Brothers e da crise financeira subsequente — como relembrou, num livro recente, um jornalista insuspeito de qualquer simpatia pelos aposentados e reformados.
O único inimigo de HR é a sua ignorância crassa sobre a segurança social.

Os senhores Medina Carreira e Henrique Raposo, são, em minha opinião, casos perdidos. Estão intoxicados pelas suas próprias lucubrações, irmanados no mesmo ódio ao Tribunal Constitucional («onde não há dinheiro, não há Constituição, não há Tribunal Constitucional, nem coisíssima nenhuma» disse Medina Carreira no programa «Olhos nos Olhos» de 9 de Setembro último;« O Tribunal Constitucional quer arrastar-nos para fora do euro» disse Henrique Raposo no programa de 14 de Outubro de 2013). E logo o Tribunal Constitucional ! — última e frágil antepara institucional aos desmandos e razias de um governo que não olha a meios para atingir os seus fins.
Estes dois homens tinham forçosamente que se encontrar um dia, pois estão bem um para o outro: um diz “corta!”, o outro “esfola!”. Pena foi que o encontro fosse no seu programa, e não o café da esquina.

Mas a senhora é jornalista.
Não pode informar sem estar informada.
Tem a obrigação de conhecer, pelo menos, os factos (pontos 1-6) que acima mencionei.
Tem a obrigação de estudar os assuntos de que quer tratar «Olhos nos Olhos», de não se deixar manipular pelas declarações dos seus interlocutores. S
e não se sentir capaz disso, se achar que o dr. Medina Carreira é demasiado matreiro para que lhe possa fazer frente, então demita-se do programa que anima, no seu próprio interesse.
Não caia no descrédito do público que a vê, não arruíne a sua reputação.
Ainda vai a tempo, mas o tempo escasseia.

José Manuel Catarino Soares

(Professor aposentado)

Lisboa. 15-10-2013

Prémio LeYa para Gabriela Ruivo Trindade

Gabriela Ruivo Trindade


Gabriela Ruivo Trindade, ganhou o PRÉMO LEYA 2013.
Parabéns Gabriela!

Com a devida vénia transcrevemos a notícia difundida pela agência Lusa e recolhida no DN ARTES:

O vencedor do Prémio LeYa, no valor de 100.000 euros, é o romance "Uma outra voz", de Gabriela Ruivo Trindade, anunciou hoje o escritor Manuel Alegre, presidente do júri.

O júri justificou a escolha - o prémio foi atribuido a uma mulher pela primeira vez - com a "consistência narrativa", nomeadamente "na caracterização das personagens femininas".
O júri salientou também "a originalidade" com que Gabriela Ruivo Trindade "combina o individual e o coletivo, bem como a inclusão da perspetiva do(s) narrador(es) no desenho cuidado de um universo de vastas implicações, mas circunscrito à esfera do mundo familiar ao longo de um século de História"
"A exploração ficcional de registo diarístico e a inclusão da fotografia dão um sinal de modernidade formal" à obra, realçou o júri.
"Uma outra voz" foi escolhida por maioria, revelou Manuel Alegre.
Aos jornalistas, Manuel Alegre disse que apesar de ser uma escolha cega, isto é, sem se conhecer o autor, "adivinhava-se que fosse uma mulher pela caracterização muito forte das personagens e pela forma como caracteriza uma dada personagem masculina".
Por outro lado, o escritor, rejeitou a possibilidade de ser autobiográfico, apesar de registar factos verídicos.
O escritor realçou que pela segunda vez é dado um prémio a um desempregado - o anterior tinha sido João Ricardo Pereira, vencedor com "O teu rosto será o último", em 2011.
"É algo que nos enche de alegria", rematou.
A autora de "Uma outra voz" vive em Londres, tem 43 anos e é natural de Lisboa.
Segundo fonte do grupo LeYa, o romance será editado "em princípios do próximo ano".
Esta sexta edição do galardão foi a mais concorrida de sempre, tendo-se candidatado 491 originais de 14 países.
O júri do Prémio LeYa 2013 foi o mesmo da edição do ano passado, tendo sido presidido por Manuel Alegre, e do qual fizeram também parte os escritores Nuno Júdice, Pepetela e José Castello, o professor da Universidade de Coimbra José Carlos Seabra Pereira, o reitor do Instituto Superior Politécnico e Universitário de Maputo, Lourenço do Rosário, e a professora da Universidade de São Paulo Rita Chaves.
À análise do júri foram submetidas sete obras finalistas que foram avaliadas em regime de "prova cega", isto é, sem saber quem é o seu autor, tendo o critério de seleção à final sido feito pelos editores do Grupo LeYa, explicou à Lusa fonte do grupo editorial.
O primeiro vencedor do Prémio LeYa, em 2008, foi o romance "O Rastro do Jaguar", do jornalista brasileiro Murilo Carvalho.

Em 2009 venceu o romance "O Olho de Hertzog", do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, na edição de 2010 o júri decidiu, por unanimidade, não atribuir o Prémio LeYa, dada a falta de qualidade dos originais a concurso, em 2011 foi distinguido o romance "O Teu Rosto Será o Último", estreia literária do português João Ricardo Pedro, e o ano passado venceu o português Nuno Camarneiro, com o romance "Debaixo de Algum Céu".


"O sonho de Pedro Passos Coelho..."

Hoje dei com esta pérola no Facebook...

Leiam... A brincar, vamos dizendo umas verdades?!... Não será isto que está sucedendo?!...
O tempo e as estatísticas falarão..

José Capitão Pardal

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"Um terço é para morrer.
Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a verdade é que não há alternativa. se não damos cabo deles, acabam por nos arrastar com eles para o fundo.
E de facto não os vamos matar-matar, aquilo que se chama matar, como faziam os nazis.
Se quiséssemos matá-los ...mesmo era por aí um clamor que Deus me livre.
Há gente muito piegas, que não percebe que as decisões duras são para tomar, custe o que custar e que, se nos livrarmos de um terço, os outros vão ficar melhor.
É por isso que nós não os vamos matar.
Eles é que vão morrendo.
Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais que nos outros grupos.
E as estatísticas já mostram isso.
 
O Mota Soares está a fazer bem o seu trabalho.
Sempre com aquela cara de anjo, sem nunca se desmanchar.
Não são os tipos da saúde pública que costumam dizer que a pobreza é a coisa que mais mal faz à saúde?
Eles lá sabem.
Por isso, joga tudo a nosso favor.
A tendência já mostra isso e o que é importante é a tendência.
Como eles adoecem mais, é só ir dificultando cada vez mais o acesso aos tratamentos.
A natureza faz o resto.
 
O Paulo Macedo também faz o que pode.
Não é genocídio, é estatística.
Um dia lá chegaremos, o que é importante é que estamos no caminho certo.
Não há dinheiro para tratar toda a gente e é preciso fazer escolhas.
E as escolhas implicam sempre sacrifícios.
Só podemos salvar alguns e devemos salvar aqueles que são mais úteis à sociedade, os que geram riqueza.
Não pode haver uns tipos que só têm direitos e não contribuem com nada, que não têm deveres.
 
Estas tretas da democracia e da educação e da saúde para todos foram inventadas quando a sociedade precisava de milhões e milhões de pobres para espalhar estrume e coisas assim.
Agora já não precisamos e há cretinos que ainda não perceberam que, para nós vivermos bem, é preciso podar estes sub-humanos.
 
Que há um terço que tem de ir à vida não tem dúvida nenhuma.
Tem é de ser o terço certo, os que gastam os nossos recursos todos e que não contribuem.
Tem de haver equidade.
Se gastam e não contribuem, tenho muita pena... os recursos são escassos.
 
Ainda no outro dia os jornais diziam que estamos com um milhão de analfabetos.
O que é que os analfabetos podem contribuir para a sociedade do conhecimento?
Só vão engrossar a massa dos parasitas, a viver à conta.
Portanto, são: os analfabetos, os desempregados de longa duração, os doentes crónicos, os pensionistas pobres (não vamos meter os velhos todos porque nós não somos animais e temos os nossos pais e os nossos avós), os sem-abrigo, os pedintes e os ciganos, claro.
E os deficientes.
Não são todos. Mas se não tiverem uma família que possa suportar o custo da assistência não se pode atirar esse fardo para cima da sociedade.
Não era justo.
E temos de promover a justiça social.
O outro terço temos de os pôr com dono.
É chato ainda precisarmos de alguns operários e assim, mas esta pouca-vergonha de pensarem que mandam no país só porque votam tem de acabar.
Para começar, o país não é competitivo com as pessoas a viverem todas decentemente.
Não digo voltar à escravatura – é outro papão de que não se pode falar -, mas a verdade é que as sociedades evoluíram muito graças à escravatura.
Libertam-se recursos para fazer investimentos e inovação para garantir o progresso e permite-se o ócio das classes abastadas, que também precisam.
A chatice de não podermos eliminar os operários como aos sub-humanos é que precisamos destes gajos para fazerem algumas coisas chatas e, para mais (por enquanto), votam – ainda que a maioria deles ou não vote ou vote em nós.
O que é preciso é acabar com esses direitos garantidos que fazem com que eles trabalhem o mínimo e vivam à sombra da bananeira.
Eles têm de ser aquilo que os comunistas dizem que eles são: proletários.
Acabar com os direitos laborais, a estabilidade do emprego, reduzir-lhes o nível de vida de maneira que percebam quem manda.
Estes têm de andar sempre borrados de medo: medo de ficar sem trabalho e passar a ser sub-humanos, de morrer de fome no meio da rua.
E enchê-los de futebol e telenovelas e *reality shows* para os anestesiar e para pensarem que os filhos deles vão ser estrelas de hip-hop e assim.
O outro terço são profissionais e técnicos, que produzem serviços essenciais, médicos e engenheiros, mas estes estão no papo.
Já os convencemos de que combater a desigualdade não é sustentável (tenho de mandar uma caixa de charutos ao Lobo Xavier), que para eles poderem viver com conforto não há outra alternativa que não seja liquidar os ciganos e os desempregados e acabar com o RSI e que para pagar a saúde deles não podemos pagar a saúde dos pobres.
 
Com um terço da população exterminada, um terço anestesiado e um terço comprado, o país pode voltar a ser estável e viável.
A verdade é que a pegada ecológica da sociedade atual não é sustentável.
E se não fosse assim não poderíamos garantir o nível de luxo crescente da classe dirigente, onde eu espero estar um dia.
Não vou ficar em Massamá a vida toda.
O Ângelo diz que, se continuarmos a portarmo-nos bem, um dia nós também vamos poder pertencer à elite."

Texto indicado no Facebook, como sendo de:
José Vítor Malheiros - Jornal Público - 11/09/2012

Do Tempo da Outra Senhora: Hoje é dia de reflexão

Do Tempo da Outra Senhora: Hoje é dia de reflexão: Pensador (1939). Escultura em bronze de Mestre Leopoldo de Almeida (1898-1975). Dimensões (cm): altura: 33; largura: 22; profundidade:...

Começou o Outono


(Leia aqui)




Vídeo de promoção da novela "Belmonte", a novela da TVI
cuja acção decorre em Estremoz (Portugal) e no Pantanal /Brasil)

Blog de Poesias Infinito Particular: PASSEIO FUGAZ...

Blog de Poesias Infinito Particular: PASSEIO FUGAZ...: Há dias em que a ALMA quer lançar-se ao céu, agarrar luas e estrelas, apenas quer vagar pelo INFINITO e cintilar... Nada mais!!! ...

A DESPEDIDA!...

Exmo. Sr.
Presidente da Assembleia Municipal
Sr. Vice Presidente da Câmara
Srs. Deputados Municipais e Srs. Vereadores

Minhas Senhoras e Meus Senhores
 
Os meus cumprimentos a todos.
 
Neste final de mandato e em forma de despedida, decidi que devia fazer uma pequena reflexão sobre os dois mandatos, que me foram possibilitados pelo voto do povo que me elegeu.
Tentei ao longo destes oito anos, servir os cidadãos e as cidadãs do concelho de Estremoz.
Muitas vezes consegui atingir os objetivos que delineei, noutras nem por isso, apesar do esforço realizado.
Coloquei sempre em primeiro lugar os interesses do concelho e soube sempre distinguir o interesse geral, do interesse particular ou de grupo.
Consegui sempre destrinçar o relacionamento interpessoal, da querela e animosidade políticas.
Muitas vezes remei contra a maré.
Fui algumas vezes incompreendido, mesmo entre os meus.
Não perdi convicções, nem princípios.
Soube sempre qual era o meu lugar.
E para que não se duvide, o meu lugar é aqui onde estou, nesta bancada (PS).
Neste momento, não posso deixar de comparar os dois mandatos para que fui eleito.
Foram mandatos completamente distintos, quer no que se refere ao meu desempenho, quer ao desempenho do plenário.
No mandato iniciado em 2005 e finalizado em 2009 assistiu-se, neste hemiciclo, a debates e a intervenções de uma invulgar qualidade, destacando as que tiveram como interveniente o Dr. José Emídio Guerreiro, talvez o último grande parlamentar desta assembleia.
Os interesses particulares ou de grupo foram sempre subalternizados e prevaleceram sempre os interesses globais dos estremocenses.
Ganharam-se e perderam-se Debates e Votações.
Houve intervenções eloquentes.
Debates produtivos e decisões democráticas.
Respeito na e pela argumentação, e pelo adversário político.
Disponibilidade para ouvir os outros e trabalhar em grupo.
Capacidade de gerar consensos.
Em suma praticou-se a democracia.
Em sintonia com o desempenho global, considero que o meu desempenho contribuiu sobre maneira para o bom desempenho do plenário.
No mandato iniciado em 2009 e que agora termina assistiu-se, nesta assembleia:
A uma pobreza de ideias e de projetos.
A intervenções pobres, monótonas, agressivas e truculentas, raiando muitas vezes o ofensivo, senão mesmo o injurioso.
Ao desrespeito institucional pela lei e por decisões democraticamente tomadas.
À Incapacidade para trabalhar em grupo e para gerar consensos.
Em suma direi, que a democracia esteve suspensa ou quase suspensa, como diria a Dra. Manuela Ferreira Leite.
Sinceramente, não realizámos o trabalho para que fomos eleitos.
Caros Deputados Municipais
Pergunto mesmo:
 
Quantos de nós tiveram a coragem de se fazerem ouvir, ao longo destas quatro anos?
Se não desempenhamos o nosso papel, que está legal e democraticamente estabelecido, para que servimos?
Também eu, não tive o engenho e arte para dar a volta ao sistema e sair desta mediocridade e considero que o meu desempenho, neste último mandato e apesar do esforço despendido, como não podia deixar de ser, não se afastou da mediocridade geral.
A forma como, nos últimos tempos se tem feito política, não me seduz...
Na política não vale tudo e os fins não justificam os meios…
Por favor, não contem comigo para fazer o papel de “faz de conta”…
E nos últimos tempos tenho-me sentido, muitas vezes a fazer de conta.
Para isso não sirvo…
Caros Deputados Municipais
Minhas senhoras e meus senhores
Ao longo destes oito anos como deputado municipal, sempre soube respeitar os meus adversários políticos e dialogar com eles de forma franca e aberta.
Penso que não… mas se algum de vós, alguma vez se sentiu magoado com alguma das minhas palavras, pode estar certo, que não tive essa intenção e, nesta altura que é de despedida, queira receber as minhas sinceras desculpas… 
Como tudo na vida, nem tudo é preto ou branco.
Nem tudo é bom ou é mau.
Ao longo destes oito anos tive o privilégio de conviver com um grupo de amigos e podem estar certos que, pessoalmente me sinto muito mais realizado, do que politicamente.
Vários de vós já eram meus amigos e consegui manter-vos como amigos.
Muitos outros que só conhecia de vista, tornaram-se meus amigos e isso, para mim, é muito mais importante do que os êxitos ou desaires políticos.
Para todos sem exceção, deixo um grande abraço e a certeza que vou andar por aí…
Obrigado por me terem ouvido
Tenho dito
José Francisco Capitão Pardal

Conquista do Paraíso



Aspecto do auditório da Casa de Estremoz, onde teve lugar
a apresentação da candidatura de José Alberto Fateixa à CME.
Fotografia recolhida em https://www.facebook.com/psestremoz  


No passado sábado estive presente na apresentação da candidatura de José Alberto Fateixa à Câmara Municipal de Estremoz. Já o estivera na apresentação da candidatura de Luís Condinho. Desta vez, a Casa de Estremoz estava literalmente cheia e havia pessoas no corredor. A sonoridade era a da “Conquista do Paraíso” de Vangelis, lírica do álbum “1492: A Conquista do Paraíso”, lançado em 1992 e usado na campanha de António Guterres para as Legislativas de 1995. Como é sabido, estas eleições realizaram-se a 1 de Outubro e determinaram uma viragem do país à esquerda. Após dez anos de governos do PSD, liderados por Cavaco Silva, o PS venceu as eleições com maioria relativa, pelo que António Guterres seria o novo primeiro-ministro de Portugal.
Estamos novamente numa mudança de ciclo, com a inevitável subida do PS ao governo, num momento que é de grave crise. Este facto tem várias implicações e uma delas é dar força às candidaturas autárquicas do PS.
Em Estremoz também há quem aguarde uma mudança de ciclo. A candidatura de José Alberto Fateixa será, porventura, dentre as candidaturas anunciadas aquela que pela sua postura inter-classista reunirá mais condições para protagonizar essa mudança.
Veremos no próximo dia 29 de Setembro se José Alberto Fateixa foi capaz de ser ou não o agente dessa mudança. Para já, a música de Vangelis assume um valor simbólico. O de que José Alberto Fateixa vai ser capaz de concretizar a “Conquista do Paraíso” ou seja ganhar as eleições para a Câmara Municipal de Estremoz.

Mulheres ao luar: A maior Lua Cheia do ano ...

Mulheres ao luar: A maior Lua Cheia do ano ...

ad valorem - Participação Cívica - Coacção na Assembleia Municipal de Estremoz

ad valorem - Participação Cívica - Coacção na Assembleia Municipal de Estremoz