Caminhos para sair da crise



O primeiro passo está dado: a convocação de eleições. De facto este governo estava a aplicar medidas que nunca tinha proposto aos portugueses. Como todos nos lembramos começou por prometer criar 50.000 postos de trabalho e acabou com medidas económicas que fizeram subir o desemprego a níveis nunca antes imaginados… Pode-se dizer que, à época, não se sabia a dimensão da crise. Mas mesmo assim os eleitores devem dizer que medidas preferem para resolver o famoso “deficit”. Pedir mais dinheiro emprestado ao FMI e aplicar as suas medidas draconianas (como a escola de Chicago fez no Chile em 1974) com uma penalização ainda mais exacerbada dos mais pobres ou, pelo contrário, taxar as transferências milionárias para os “offshores” (só na Madeira de 3000 empresas apenas 2930 pagaram impostos em 2009), criar um imposto sobre as grandes fortunas (1% garantia a sustentabilidade da Segurança Social para os mais carenciados), aumentar o apoio aos desempregados (como recomenda o Nobel da Economia, Paul Kruggman), obrigar os Bancos a pagar o mesmo IRC (25%) que qualquer comerciante ou pequeno industrial, etc. Mais do que decisões de impacto económico são decisões políticas: Quem vai, ao fim e ao cabo, pagar a crise? Os mais pobres ou os mais abastados? É isto que se vai decidir nas próximas eleições… As medidas “tipo-FMI-sem-FMI” que Sócrates implementou foram redigidas em alemão. O PSD diz que as vai aplicar se ganhar as eleições mas que o país sentirá menos… Ora isto é ridículo e prova apenas uma coisa: PS e PSD vão apresentar o mesmo programa eleitoral, vão é ter uma trabalheira para que isso não se note… Aqui para nós todos os votos que caírem no centro e à direita são votos no FMI, sem que este apareça nos boletins de voto. Sabendo disto, Cavaco Silva vai mais longe: quer um governo de coligação PS / PSD. Mas o que eu gostaria de saber é o que pensam disto os socialistas que ainda se revêem numa política de defesa do estado social. Nota – Já depois de publicadas estas notas, surgiu a esperada notícia de pedido de apoio à União Europeia. Francisco Louçã também já disse o que era esperado: não contem connosco para viabilizar cortes nas reformas, nos salários ou noutros direitos. Mas também é verdade que metade da “dívida” foi causada pelos Bancos: não é pública, é privada! Mas mesmo essa parte, somos todos nós que vamos pagar.

Luis Mariano

SÃO ENGRAÇADOS, ELES!



Esta última semana foi vê-los num corrupio de discursos e chamadas de atenção à nação sobre o bom senso, a cordialidade e consenso, para chamarem à “razão” a oposição, sobre a necessidade de evitar o caos. O caso mais caricato foi o de Jorge Sampaio, ressurgido das brumas, nos apelos que fez, esquecendo-se do que já fez quando foi Presidente da República e da decisão que tomou para, claramente, beneficiar o PS, tal como sucedeu. É preciso não esquecer que Jorge Sampaio cedeu à tentação de beneficiar o PS, depois de este se ter livrado de Ferro Rodrigues, justificando a sua decisão com a situação do país, à data, com um governo que gozava do apoio e legitimidade de uma maioria parlamentar. Agora, perante um governo minoritário, que levou o país ao caos em que nos encontramos, voltou a defender o PS, quando tudo justificava a tomada de posição que a oposição tomou, ao chumbar o PEC 4. À data em que Jorge Sampaio dissolveu o parlamento, pondo fim a uma maioria parlamentar, justificou-a com a actuação de um governo que não tinha feito, sequer, um décimo do que este fez, nem tinha levado o país à ruina, como este levou. Agora, como o governo é de esquerda e a esquerda só entende o funcionamento democrático quando ganha, bem como que a sua legitimidade está sempre acima de qualquer opinião do povo, era necessário vir dar todo o apoio ao moribundo governo PS. Para Jorge Sampaio uma maioria parlamentar legitima menos um governo do que uma minoria. Para Jorge Sampaio é preferível salvar um governo minoritário que levou o país à ruina do que um maioritário, cujo pecado mortal foi aumentar os impostos à banca e ao sector financeiro. São engraçados, eles! A outra graça hilariante da semana passada foi a crítica ao actual Presidente da República, feita pela esquerda, desta vez porque interveio, exorbitando, segundo eles, os seus poderes. Criticou-o a esquerda, porque nada fez para intervir no primeiro mandato, pactuando com as medidas do governo. Agora, que interveio, com um discurso sobre a realidade do país, exorbitou os seus poderes. Mas, quando já se evidenciava que o PEC 4 ia ser chumbado, aqui d’el rei que o Presidente da República tinha que intervir para que o PEC 4 não fosse chumbado. São engraçados, eles! Após o chumbo, o clamor contra a não intervenção do Presidente da República agigantou-se. Afinal, parece que a esquerda não sabe o que quer, anda indecisa sobre o que deve fazer o Presidente da República. Mas, se virmos bem, não anda indecisa, entende é que todos devem estar ao seu serviço, leia-se da esquerda, porque ela é que é a dona da legitimidade democrática e a democracia tem que funcionar como ela quer que funcione, não é para os outros andarem por aí a pensarem, porque para pensar está cá a esquerda. São engraçados, eles, são, são, mas mais vale cair em graça do que ser engraçado!