JORGE BRANCO NO CENTRO CUILTURAL DE ESTREMOZ

Estremoz I – 2010 – 21x27 cm – Tinta da China sobre papel vegetal

LABIRINTOS E GALÁXIAS” é a Exposição de Jorge Branco a abrir no próximo dia 18 de Setembro (sábado), pelas 17 horas, na Sala de Exposições do Centro Cultural Dr. Marques Crespo, na Rua João de Sousa Carvalho, em Estremoz.
A Exposição, da iniciativa da Associação Filatélica Alentejana e que conta com o apoio da Câmara Municipal de Estremoz, é constituída por 33 desenhos a tinta-da-china, tinta estilográfica e esferográfica, sobre papel.
Jorge Branco é natural de Lisboa, onde nasceu em 1930. Geofísico de profissão, trabalhou de 1957 a 1959, em Luanda (Angola), na qualidade de membro do Serviço Meteorológico Nacional. Regressado a Lisboa, mantém-se neste Serviço até 1966, ano em que ingressa no Centro de Cálculo Cientifico do Instituto Gulbenkian de Ciência, onde trabalhou até à sua aposentação em 1986.
Fascinado pelo Alentejo, fixou-se nesta data, nos arredores de Estremoz, cidade que o recebeu de braços abertos e onde de uma forma consequente tem participado em actividades cívicas e associativas.
Espírito de fineza, polifacetado, jornalista e escritor com obra publicada, tem efectuado também incursões em múltiplas áreas do seu eclético interesse: artes plásticas, etnografia, ecologia, coleccionismo, caminhos-de-ferro, etc., na ânsia de percorrer memórias que têm a ver com o mais profundo do seu ego.
Jorge Branco já trabalhou a aguarela e o óleo, mas actualmente, a sua actividade artística centra-se na pirogravura e no desenho.
Na sua opinião, o acto de criação artística é possivelmente uma catarse, a satisfação de necessidades instintivas ou muito recalcadas. Por isso, quando cria, sente satisfação plena.
Não tem preferência por qualquer material ou cor. Para ele, o acto criativo é uma mistura em doses variáveis de autobiografia, onirismo e recriação mais ou menos inconsciente, daquilo que o seu olhar captou.
Sem qualquer formação académica no campo artístico, frequentou, todavia, um curso de gravura, leccionado por Alice Jorge, João Hogan e Júlio Pomar, que o familiarizaram com as técnicas e os materiais. Por isso, não tem qualquer preocupação com a composição ou a gestão do espaço, o que lhe permite trabalhar muito espontaneamente. Dá toda a importância às exposições, já que na sua óptica, é através delas que o criador pode dar às suas obras o verdadeiro destino, que é o de serem conhecidas e apreciadas pelo público.
Em termos de actividades exposicionais, são de salientar as seguintes:
1958 - Exposição Colectiva na Sociedade Cultural de Angola, Luanda;
2006 - Exposição Individual de Pirogravuras, Galeria D. Diniz, Estremoz;
2007 - Exposição Colectiva Estremoz-Artes;
2007 – Exposição Colectiva do Rotary Clube de Estremoz, Hotel Pateo dos Solares;
2008 - Exposição Colectiva do Rotary Clube de Estremoz, Centro Cultural Dr. Marques Crespo;
2009 - Exposição Colectiva do Rotary Clube de Estremoz, Hotel Pateo dos Solares;
A Exposição “LABIRINTOS E GALÁXIAS”, estará patente ao público no Centro Cultural Dr. Marques Crespo, até 16 de Outubro, podendo ser visitada de 3ª feira a sábado, entre as 9 e as 12 h 30 min e entre as 14 e as 17 h e 30 min.
Uma exposição a granjear certamente a visitação de todos nós.

Hernâni Matos

Estremoz, Rua Direita I – 2007 – 31x23 cm – Tinta estilográfica sobre papel


A Cidade Estrangulada – 2010 – 25x20 cm – Tinta estilográfica sobre papel vegetal
Securas – 1963 – 20x15 cm – Tinta da China sobre papel


Galáxia – 1965 – 20,5x29,5 cm - Tinta da China sobre papel     
                             

O equívoco da produtividade


Uma das causas que mais comummente é apresentada para justificar o atraso relativo de Portugal face aos demais países da União Europeia é a produtividade. São muitos os que fazem coro dizendo que enquanto a nossa produtividade se mantiver em 2/3 da média europeia jamais poderemos almejar um nível de vida comparável ao daqueles que nos servem de referência. Depreende-se, portanto, que a nosso aparelho produtivo não é eficiente, ou seja, que não só temos de produzir mais como, sobretudo, que temos que produzir melhor. Certo? Bom… não vou dizer "errado" mas posso assegurar que esta abordagem também não está completamente certa. Hoje vou procurar desfazer este equívoco que nos persegue.
Vou fazê-lo de duas formas: (1) começando por também fazer coro com os demais dizendo que com esta produtividade não vamos lá…; e (2) depois tentarei demonstrar que, afinal, a nossa produtividade, não sendo óptima, também não é assim tão má. Confuso? Se sim considere-se uma pessoa normal. Esta realidade é complexa; explicá-la ainda o é mais.
Antes de mais clarifiquemos conceitos. A produtividade é um indicador que se obtém relacionando a Valor Acrescentado Bruto (VAB), no numerador, com a força de trabalho em unidades físicas, no denominador. Todavia este indicador não diz que um trabalhador português produz menos que qualquer outro da União Europeia. Diz sim que aquilo que produz vale menos. Aliás, se a relação do VAB for feita com os custos do factor trabalho verificamos algo, aparentemente, paradoxal: a nossa produtividade física – ou seja aquela que relaciona os produtos e serviços criados com a força de trabalho – está até bem próxima da média europeia.
Chegados aqui, pergunta-se porque é o nosso VAB menor: porque os nossos produtos têm menor qualidade? Também não é por aí. Posso inclusivamente garantir que há produtos portugueses comercializados na Oxford Street, em Londres, por um valor 5 vezes superior ao seu custo à saída da fábrica, em S. João da Madeira. Só há um pormenor: não há nada naqueles produtos que os identifique como portugueses, já que são vendidos com marcas comerciais inglesas de estabelecimentos de referência. Mais: se tais produtos, calçado por exemplo, passarem antes por Itália e lá for gravado um logótipo de uma prestigiada marca industrial italiana, então nesse caso já é admissível que o valor de venda junto do consumidor final atinja 10 vezes mais que o valor à saída da fábrica. Como podemos ver, no primeiro caso, o VAB gerado pelos comerciantes ingleses é 4 vezes maior que o gerado pelos industriais portugueses; e, no segundo caso, o VAB de ingleses e italianos é 9 vezes superior ao nosso.
Qual é então a causa maior da nossa reduzida produtividade económica? A resposta é esta: a falta de prestígio internacional de Portugal. No mundo somos conhecidos de duas formas: pela epopeia marítima dos séculos XV e XVI e… pelo Figo e pelo Ronaldo. Nenhuma destas visões confere valor aos nossos produtos.
Notas:
Publicado na edição de 16Set2010 do Jornal Brados do Alentejo;
Também publicado em ad valorem
A imagem foi colhida no sítio para o qual aponta a respectiva hiperligação.

Colecção da Alfaia Agrícola de Estremoz (dá Deus nozes a quem não tem dentes)

RÉS DO CHÃO - Máquina debulhadora (Foto Correia)

A motivação próxima destas linhas é o artigo “Edifício do Museu da Alfaia Agrícola de Estremoz – Crónica de uma morte anunciada”, da autoria de Hernâni Matos (HM), publicado em suporte de papel no jornal Ecos (23.7.2010) e em suporte electrónico nos blogues “Do tempo da outra senhora” e “Estremoz Net”.
Em primeiro lugar devo fazer uma declaração de interesses: fui fundador da Associação Etnográfica e Cultural de Estremoz (ETMOZ), da qual posteriormente me afastei, por entender que a sua actividade se desviou da finalidade que a tinha motivado e para a qual tinha sido constituída – a preservação, divulgação e desenvolvimento da Colecção da Alfaia Agrícola de Estremoz (CAAE).
No período em que integrei esta associação elaborei, juntamente com Ruy Zagalo Pacheco (entretanto falecido), um primeiro inventário do espólio que constituía a colecção, o qual deu origem à edição de um catálogo descritivo. A importância deste trabalho, que realizámos gratuitamente, decorria:
1º da necessidade de se conhecer, com precisão e objectividade, a composição do espólio existente.
2º dispor de um instrumento que permitisse a elaboração de candidatura(s) a fundos comunitários, no que respeita a medidas direccionadas para o património museológico, que as havia e estavam a ser utilizadas por muitos outros museus de autarquias.
Também em conjunto desenvolvemos diversas diligências no sentido de ser estabelecida uma colaboração com o Departamento de História da Universidade de Évora, a qual nunca se chegou a concretizar por razões, da parte da direcção da ETMOZ, que desconheci.
Feita esta declaração, que adiante se entenderá o sentido, quero felicitar HM pela forma como coloca a questão do “edifício do Museu da Alfaia Agrícola”, directamente associada ao próprio conteúdo, a CAAE. Ou seja, equacionar a CAAE como um todo, em que continente (o edifício) e o conteúdo (o espólio) são objecto, simultâneo, de acção museológica, perspectiva que tenho defendido ao longo dos anos, e que parece só agora começar a colher adeptos.
Neste sentido, é pena que HM não tenha desenvolvido melhor aquilo que introduziu no seu artigo com o subtítulo “Marcos na história de um edifício”. Penso que se HM pretende contribuir para a (re)construção da(s) memória(s) daquele imóvel, não deveria limitar-se à referência de apenas alguns tópicos.
E, em relação a estes marcos / tópicos, gostaria de fazer algumas considerações, sobretudo no que respeita aos anos mais recentes.
Em primeiro lugar, o protocolo estabelecido entre a CME e a ETMOZ, em 1996, em relação ao qual sempre me opus, posição na qual estive isolado.
As razões eram obvias: por um lado a ETMOZ nem sequer tinha meios próprios para assegurar o seu normal funcionamento, quanto mais para assumir a gestão do “Museu da Alfaia Agrícola” (edifício e espólio).
Depois, a própria legalidade do protocolo, que considerei de duvidosa, já que uma situação seria protocolizar bens que eram pertença de uma das entidades envolvidas, nomeadamente a CME, e outra era fazê-lo com bens que apenas lhe estavam confiados – parte da colecção é constituída por peças em depósito, ou seja, diversos particulares confiaram à CME, e só a ela, a conservação, preservação, exposição e mais acções inerentes à sua musealização.
Por último, o protocolo, tal como foi elaborado e estabelecido, dava um sinal de que a autarquia declinava a sua responsabilidade em relação a espólio tão valioso, bem como à conservação do imóvel, situação tanto mais caricata quanto, sendo este arrendado pela CME, e necessitado, já na altura, de intervenção, quer ao nível da cobertura (telhado), quer ao nível das paredes exteriores (incluindo janelas e portas), nunca foi accionado um processo de obras compulsivas, permitindo canalizar o dinheiro das rendas para as intervenções necessárias, processo este que teria que ser da iniciativa da autarquia.
Porque não foi feito? Por desinteresse, por apatia, por ignorância?... se calhar um pouco de tudo.
Um segundo comentário ao artigo de HM, é para aquilo que ele considera que foi a acção do Director do Museu Municipal: “De salientar que ao longo do processo de degradação o Director do Museu (Municipal) e o pessoal de apoio foi incansável, tendo feito tudo o que lhe era humanamente possível para travar essa degradação”.
Confesso que não sei o que é que HM entende por “humanamente possível”. No entanto sei o que se deveria ter sido feito, e até pensei que teria sido feito, dado ser tão elementar, mas que afinal não se fez.
As condições no interior do edifício não eram todas iguais, quer entre os três pisos que o constituem, quer nas diversas divisões de cada piso. Assim: o terceiro piso aconselhava a sua total desocupação por questões de segurança e de condições ambientais; nos outros dois pisos (rés-do-chão e 1º andar) teria sido possível estabelecer duas áreas distintas – uma para reserva (que nunca chegou a ser constituída apesar de constar em relatórios e estudos anteriores) e uma área de exposição, aberta ao público sem condicionalismos.
E a partir de 2006, quando a circulação de pessoas corria sérios riscos? Tratando-se de um edifício com espaços amplos e praticamente sem portas, não teria sido possível colocar rede de capoeira nos sítios de passagem, para evitar a sua transformação num imenso pombal com o que isso implicava / implicou em termos de degradação do espólio?
E em relação às peças mais volumosas, como por exemplo debulhadoras, locomóvel, diversos carros de tracção animal, trilhos, arados, gadanheiras, etc…, não teria sido possível a sua cobertura com uma tela, ou até mesmo plástico, como o que se cobrem as alumiadas de feno e fardos de palha no campo?
E em relação às peças de menor dimensão, que se mantiveram anos consecutivos pendurados nas paredes, em contacto directo com as mesmas, não teria sido possível construir algum mobiliário simples para a sua conservação, cuja execução estaria perfeitamente ao alcance dos serviços da autarquia, bastando para isso fornecer informação adequada?
São soluções técnicas, e friso o termo técnicas, de baixo custo, mas que parece que já não seriam “humanamente possíveis”, embora tivessem evitado estragos significativos, conforme testemunhou a PSP aquando da averiguação do assalto ao imóvel verificado no passado dia 14 de Julho (ver notícia do “Brados do Alentejo”, de 22 de Julho)
E em relação a outras acções, nomeadamente de inventário e aquilo que HM tanto valorizou no seu artigo, e que eu subscrevo inteiramente: a(s) memória(s). Houve preocupação de recolher e/ou registar os testemunhos de antigos trabalhadores agrícolas que trabalharam com aquelas alfaias, e outros actores do mundo rural? É que, independentemente de discursos bem intencionados, estas pessoas vão desaparecendo, restando, depois, apenas os aspectos materiais dos objectos, com os quais, em exclusivo, não é possível organizar um discurso expositivo.
As questões que aqui levantei não têm por objectivo censurar seja quem for, mas chamar a atenção para o que se podia/pode ser feito em prol do núcleo museológico da Alfaia Agrícola, incluindo aqui quer a colecção quer o imóvel, para que não se cometam os erros do passado e se mude de atitude (para que se considere a CAAE como património que é e não como velharias, como parece que tem acontecido), tanto mais que alguns dos actores actuais com responsabilidade na matéria são os mesmos do passado recente.

Estremoz, 8 de Setembro de 2010
Pedro Nunes da Silva