"AINDA BEM QUE NÃO PASSA DE UM SONHO", REVISITADO

Antes de iniciar esta “resposta”, informo os leitores que tive a hombridade de conversar primeiro por telefone com o Sr. Dr. Pedro Silva, relativamente ao artigo que escreveu no pretérito número do Brados do Alentejo – “Ainda bem que não passa de um sonho”. Tive oportunidade de lamentar com veemência a forma como aborda o tema e convidei-o a conhecer o nosso trabalho de forma a fundamentar melhor a sua opinião. O convite foi aceite, estando agora dependente de autorizações superiores.
Ora bem, estranho o artigo do Sr. Dr. Pedro Silva, pelo conteúdo e pelo estilo. Estranho porque esteve os últimos 10 anos no silêncio, enquanto outros trabalhavam para resolver uma situação aflitiva. Todos os Vereadores com quem trabalhei são testemunhas do meu empenho constante, incansável, e do valioso trabalho dos colaboradores do Museu, que mesmo colocando em risco a sua integridade física, dado o estado calamitoso do imóvel, “lutavam” para manter em condições de conservação mínimas um acervo tão vasto e diverso. Sou também testemunha do perigo que correram carpinteiros e pedreiros, que com as suas pequenas intervenções foram minorando (e adiando) a ruína do edifício. É de notar que mesmo depois do encerramento ao público (Abril de 2004), a equipa do Museu ainda esteve cerca de dois anos em acções de conservação e limpeza.
Infelizmente, não foi possível a partir de determinada altura manter o ritmo deste trabalho de conservação do acervo, dado que todas as semanas caía mais um pedaço de tecto ou telhado. Era a vida dos colaboradores que estava em risco e isso não podíamos consentir. Novamente me foi dito pelo executivo de então, que a autarquia não tinha os meios financeiros para adquirir o imóvel e avançar com uma intervenção de fundo. Houve então que tomar uma decisão difícil – ficámos somente a monotorizar o imóvel, de modo a que janelas e portas não ficassem abertas pela ruína, ou fossem vandalizadas e permitissem a entrada de estranhos. Em suma, tudo o que um técnico podia fazer em prol do Museu, foi efectuado. Daí que minimizar o trabalho dos colaboradores do Museu e do seu Director, é incorrecto, diria mesmo, pouco honesto intelectualmente. Dizer que fizémos “muito pouco”, é um acto sem nome.
Estranho também o ataque à integridade profissional do Director do Museu e a ridicularização do seu sonho para este núcleo museológico do Museu Municipal. Acto que só denigre quem o fez e não quem o sofreu. Mas já lá vamos.
Da primeira à última linha, não há uma ideia, um oferecer de ajuda, um reforço positivo face às óbvias dificuldades que se avizinham. Tudo se centra num comentário, sobranceiro intelectualmente, à organização deste sector, com uns confusos conceitos sobre o que é uma Colecção e um Museu… Meu caro, desde 2004 que o Museu da Alfaia Agrícola é um núcleo museológico do Museu Municipal, só mantendo a designação de “Museu” porque o executivo municipal de então (e o que se seguiu, no Regulamento de 2008) assim, e contra a minha opinião técnica, o decidiu. Sentiam estes que se estaria a passar uma mensagem de “diminuição da categoria do Museu da Alfaia.” Quanto ao chamar-lhe “Colecção”, discordo, já que é um acervo diverso composto por várias Colecções (instrumentos de debulha, instrumentos de corte e manuseio de palhas, colecção de metrologia, entre outras). Entendo que o conceito de Núcleo Museológico é o que melhor se adapta. Penso que o Sr. Dr. ficou esclarecido.
Passemos ao meu sonho, que ridiculariza e entende como proposta irresponsável. Este sonho tem por base uma proposta do Sr. Dr. Pedro Borges, da qual o Sr. Prof. Joaquim Vermelho comungava, já com alguns anos e a qual sempre achei muito interessante. É um modo inteligente de revitalizarmos e reabilitarmos uma área em plena zona nobre da cidade (Casa das Fardas, Picadeiro e Paiol), bastante mal frequentada e em ruínas. Que é um projecto difícil face às propriedades, localização e integração em ZEP, concordo plenamente. Impossível? Não, não concordo. Dado que fomos aceites na Rede Portuguesa de Museus (Museu Municipal e seus núcleos museológicos), acto indispensável para acedermos a fundos que permitam a recuperação e reinstalação do Museu da Alfaia noutro espaço, agora é altura de apostar neste projecto. Não sou eu quem decide, mas a solução agrada-me muito. Por mim, a autarquia até pode apostar num imóvel novo (mais barato e adapta-se ao acervo existente e futuro), desde que o acervo saia do edifício onde está, situação insustentável e que já tem consequências visíveis numa parte do acervo.
Não vou entrar em mais pormenores, como os relativos a peças que o Sr. Dr. Pedro Silva já dá como desaparecidas por degradação completa (sem ir ao Museu já lá vão 10 anos!), porque o espaço não é propício, mas tendo a minha honra e dignidade profissional sido alvo de um ataque que considero pessoal pela forma como foi redigido, não podia deixar de dar uma resposta, por mais resumida que fosse.
Não sou contra a sua opinião Sr. Dr., tenha a mesma alguma validade científica/ética ou não! Dar a nossa opinião é um direito. Sou sim contra o modo como esta foi exposta.
Fica ainda o registo que não comentarei uma reacção(ões). Após este esclarecimento, o assunto morreu aqui.
Muito obrigado ao jornal pelo espaço disponibilizado.

in Brados do Alentejo, 24/6/2010.

Requiem por um sonho


Ainda criança disseram-me que a nossa missão na terra era conquistar um lugar no Céu. Sim, porque a vida pode acabar no corpo mas a Alma é imortal. Naquele tempo de inocência era para nós fácil acreditar nestas coisas. Afinal, só tínhamos que nos portar bem que S. Pedro nos abriria as portas do Céu… e valia a pena, já que as alternativas para uma alma pecadora eram as agruras do fogo do Inferno.
Lembro-me também com muita clareza da fase da minha vida em que comecei a pôr estas ideias em causa. Curiosamente coincidiu com uma fase do desenvolvimento da personalidade que a psicologia caracteriza como a "afirmação do Eu" (vá lá saber-se o porquê…). Enfim, pouco importa. O que importa aqui é que passaram muitos anos para voltar a acreditar na essência da Alma, até finalmente reconhecer que aquilo que somos em vida pode perdurar claramente para além da morte.
Como é evidente, não o descobri pela minha própria pessoa, mas sim por aqueles que, morrendo, me permitiram descobrir a existência de vida para além da morte. Às vezes é uma mera recordação, um contacto com um lugar, o reviver de uma situação, uma forma de tossir, de rir, de andar, um escrito reencontrado, uma foto ou, mais recentemente, um filme, às vezes é uma mesa ou uma cadeira, outras é a chuva, o vento, a neve ou o sol… Enfim, aqueles que nos marcaram em vida perduram na nossa memória e, enquanto houver memória, voltam a nós fazendo-nos reviver momentos de alegria ou de tristeza, provocando-nos sensações muito similares àquelas que sentimos enquanto partilhávamos um espaço e um tempo comum.
Na maior parte dos casos, aquela vida para além da morte prolonga-se por uma, duas, por vezes, três gerações, acabando por desvanecer-se de forma gradual se os vivos (no sentido literal do termo) não lhe prolongarem a existência através de um testemunho registado. Neste último caso, havendo registo escrito, áudio, vídeo, uma pintura ou uma gravura, a vida eterna pode até tornar-se possível, algo apenas atingível por alguns eleitos que conseguem fazer afirmar a sua presença muito para além da partilha do tempo e do lugar (em simultâneo) com os vivos.
Destes eleitos, um deles morreu esta semana conseguindo com a sua morte despertar as mesmas paixões e ódios que suscitou em vida. A este já está garantida a vida eterna.
Mas esta semana morreram também pessoas comuns. Morreram pessoas que não tiveram tempo de demonstrar toda a sua valia para além do círculo restrito daqueles com quem partilharam a sua breve existência, mas que nem por isso deixaram de ser notáveis para os que as amaram. Com elas morre também um sonho… daí este requiem. Cabe aos vivos conferir imortalidade às suas almas.

Publicado na edição de 24 de Junho de 2010 do Jornal Brados do Alentejo.
Também publicado em ad valorem.
As imagens foram colhidas nos sítios para os quais apontam as respectivas hiperligações.

Junta de Freguesia de Santa Maria expõe “Barrística Quirina Marmelo"

A barrista Quirina Marmelo.

Numa iniciativa da Junta de Freguesia de Santa Maria (Estremoz), decorreu no Salão de Festas desta Junta, no passado sábado, a partir das 18 horas, uma homenagem à barrista estremocense Quirina Marmelo, já falecida.
Esta homenagem assumiu fundamentalmente a forma de uma exposição da “Barrística Quirina Marmelo”, visando promover também um encontro de várias gerações de barristas, uma vez que se encontram expostos não só trabalhos seus, como de seu marido, António Lino de Sousa, com quem aprendeu a modelar o barro, assim como de Duarte Catela, seu bisneto, a quem passou o testemunho.
A Academia Sénior de Estremoz, através do seu grupo de dança e do seu grupo de cantares, associou-se à homenagem, actuando no final.
A exposição da “Barrística Quirina Marmelo”, estará patente ao público no Salão de Festas da Junta de Freguesia de Santa Maria, até ao próximo dia 30 de Julho.

 

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A Inevitabilidade do €uro


O Economês descomplicado

Esta coluna, tem como objectivo ajudar a entender, temas económicos que marcam a actualidade, que mexem com as nossas vidas e que por vezes são difíceis de entender.

“Se a actual crise do euro não significar o fim da moeda única, andará lá perto. Pelo menos, representará o último capítulo de uma fase de lançamento cheia de promessas mas, também, de ilusões, imprudência e riscos subestimados.”
Esta frase proferida por um reputado economista europeu, reflecte bem o grau de incerteza e de descrença a que se chegou, relativamente ao futuro da moeda única europeia.
O leitor de certo já se interrogou várias vezes desde o seu aparecimento:
Que vantagens trouxe o euro para Portugal?
Ao aderir ao euro em 1999, Portugal aderiu a uma união monetária de moeda forte, dirigida por um banco (Banco Central Europeu) controlado pela Alemanha, como país motor da economia da zona euro, deixando os países aderentes a partir dessa data, de terem controlo efectivo sobre a política monetária e cambial dos seus países, e consequentemente, deixando de poder controlar a emissão de moeda, as taxas de juro e a taxa cambial.
A adesão significava também, a abertura de novos mercados e a simplificação das transacções entre países.
Perdeu-se soberania; Ganhou-se mercado.
De imediato, Portugal beneficiou de taxas de juro baixas e de uma moeda forte.
Em contrapartida, Portugal deveria tornar-se mais competitivo, modernizar a sua economia e aumentar as exportações, tornando-se menos dependente do exterior.
Mas falhámos!
Passada uma década desde a adesão ao euro, Portugal não conseguiu tornar-se competitivo. Continuamos a comprar muito mais ao estrangeiro do que aquilo que lhes vendemos. O euro como moeda forte contribuiu para este problema, pois a relação cambial encarece o que exportamos, e logo, dificulta a vida às empresas exportadoras, tornando mais barato o que importamos, o que nos torna mais dependentes do exterior, mais endividados, e logicamente mais pobres.
Só temos um caminho! Apostar na produção nacional e no sector exportador.
Invertermos a tendência! Vender mais ao exterior, e em contrapartida comprar menos.
Os apoios e investimentos públicos devem concentrar-se nas exportações, investindo nos chamados bens transaccionáveis (que se vendem nos mercados internacionais).
Devemos abandonar a política da obra pública de fachada, do betão, dos projectos megalómanos, que não geram riqueza, mas sim encargos para as gerações futuras.
Passada uma década, começa a falar-se demasiado no fim do euro.
Para além dos eurocépticos que nunca quiseram embarcar no euro, também os europeístas convictos por um lado e os subsídios dependentes de países como o nosso, por outro lado, estão muito desiludidos com a moeda única.
Mas sair, causaria uma turbulência financeira de consequências inimagináveis.
Imagino que teríamos um choque brutal e imediato de desvalorização monetária, porque de certo não iríamos retomar o escudo com o valor com que o deixámos em 1999, e por isso, tudo nos sairia mais caro, inclusivamente a dívida externa que deveria aumentar na proporção directa da desvalorização da nossa moeda.
Ficaríamos então ainda mais pobres e mais endividados.
Perante a inevitabilidade do euro, o caminho a seguir é estreito, mas passa seguramente por trabalhar com mais produtividade e consumir com menos endividamento.

Publicado também no jornal ECOS, edição de 18/06/2010