O Economês descomplicado



O Economês descomplicado
Por: António Fitas Garcia
Esta coluna, tem como objectivo ajudar a entender, temas económicos que marcam a actualidade, que mexem com as nossas vidas e que por vezes são difíceis de entender.


A crise financeira que se abateu por todo o mundo em 2008, e que foi apelidada da maior crise desde a Grande Depressão de 1929, teve o seu inicio nos Estados Unidos da América com a designação da crise do Subprime.
De uma forma didáctica, vamos usar como exemplo a história fictícia de Ted, um típico americano de classe média, e um consumista desenfreado:
Ted, comprou casa para habitação própria, no começo dos anos 90 por 200.000 dólares pedindo para o efeito um empréstimo bancário a 30 anos.
Com a valorização imobiliária nos anos seguintes, em 2006 a casa de Ted tinha valorizado e foi avaliada em 1 milhão de dólares.
Mesmo ainda faltando cerca de 15 anos para pagar o empréstimo, o banco perguntou se ele queria um financiamento de 800.000 dólares, ou seja, uma segunda hipoteca, sobre a sua casa.
Ted não precisava do dinheiro, tinha um emprego estável, morava numa simpática casa no subúrbio de uma grande cidade, mas como todo o americano, não podia ouvir a palavra crédito. Ele aceitou o empréstimo, fez a nova hipoteca e ficou com os 800.000 dólares.
Com o dinheiro na conta, Ted ia sendo informado pelo seu gestor bancário que o mercado imobiliário continuava a valorizar fortemente.
Ted foi então aconselhado a investir no ramo imobiliário e decidiu comprar 3 casas em construção, na parte mais nobre da cidade, dando como entrada 300.000 dólares e contraindo novos empréstimos para concluir essas casas.
A diferença, 500.000 dólares, que Ted tinha recebido do banco, gastou em novos carros para ele e para a esposa, em novas mobílias, plasmas, viagens e por fim uma cirurgia plástica para a esposa.
Ted era o sonho americano em forma de pessoa, só havia um problema, toda a gente estava a ter a mesma ideia.
No começo de 2007 começaram a correr boatos que os preços das casas estavam a cair. Ai aconteceu o que muitos temiam, a chamada Bolha Imobiliária “estourou”.
As casas que Ted tinha comprado e estavam em fase final de construção caíram vertiginosamente de preço e as taxas de juro das hipotecas que pagava começaram a subir astronomicamente. Os compradores desapareceram. Ted começou a não poder pagar aos bancos os empréstimos das casas.
Os bancos começaram então a ficar sem receber de milhões de especuladores iguais ao Ted e tiveram que executar as hipotecas.
Ted, teve de entregar aos bancos as 3 casas que comprou como investimento perdendo tudo o que tinha investido, e ainda ficando a dever muito dinheiro.
Os bancos que entretanto haviam transformado os empréstimos de milhões de Ted’s em Títulos Negociáveis, que estavam disseminados por todo o sistema financeiro de todo o mundo, de um momento para o outro ficaram com títulos sem valor nos seus activos sendo apelidados de Títulos Tóxicos. Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos e baseados num preço que esses imóveis não valiam mais.
A farra do crédito fácil acabou, enfim. Os bancos pararam de emprestar por medo de não receber e os Ted`s tiveram de parar de consumir porque não tinham crédito.
E você leitor? Quantos Ted’s conhece?

(Publicado também no jornal ECOS, nº 85, de 21 de Maio de 2010 e no blogue O Economês Descomplicado )

1 comentários:

Amigo Garcia:
Em nome da equipa do blogue ESTREMOZ NET, da qual você passa desde agora a ser membro, quero-lhe dar as boas vindas a este "Espaço de Encontro e de Caminhada, para quem ama Estremoz".
Em meu nome pessoal, quero felicitá-lo pela qualidade e pertinência deste post.
A maioria das pessoas são bombardeadas diariamente nos "media" com termos técnicos de Economia e não só, que ninguém se preocupa em explicar-lhes.
O respeito que nos devem merecer os outros passa exactamente por aqui, tornando acessívis temas que eles têm o direito de conhecer, como membros de corpo inteiro duma sociedade que se quer democrática e participada.
Bem haja pois, pelo carácter didáctico do post.
Um grande abraço do amigo:
Hernâni Matos

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