Certa ocasião um banqueiro português recebeu um cliente a quem não queria dar crédito, mas a quem não podia também dizer que não. Convidou-o então para dar um passeio pela baixa lisboeta. Regressados ao banco, disse-lhe: "Eu não lhe empresto o dinheiro, mas depois de termos sido vistos juntos, qualquer um dos meus colegas o vai financiar.”
Na última crónica abordei a crise do Subprime que teve o seu início nos EUA em 2007 e se propagou a todo o mundo em 2008. Portugal como economia aberta e muito exposta ao exterior, não ficou imune a todos estes acontecimentos e a crise financeira bateu também à nossa porta.
Mas as perguntas que podemos fazer são: Não contribuímos também nós para este estado de coisas? Estamos isentos de culpas?
Pois é, caro leitor. Portugal também não ficou imune a essa loucura desenfreada do crédito fácil. A pequena história que se conta no início da crónica, diz-se, teve lugar na década de 80 do século passado. Do conservadorismo financeiro retratado então, passou-se para a vertigem do crédito e do consumo.
Quem de nós não foi contactado por carta ou por telefone por uma qualquer instituição financeira com a oferta de um crédito para "realizar o seu sonho".
Como tivemos de resistir - muitos não conseguiram (a maioria) - à oferta de crédito fácil para: - comprar casa (se já tínhamos uma, devíamos comprar uma segunda habitação para casa de férias); - comprar acções e fundos de empresas que iriam sempre valorizar; - para cartões de crédito, muitos e variados; - para comprarmos computadores e ir-mos de férias para destinos paradisíacos.
Enfim, o ”Sonho Português”.
Todos se deixaram embalar pela ilusão de um mundo de crédito sem factura. "Se os bancos nos emprestam é porque não há problema, eles sabem o que estão a fazer", diziam os cidadãos. "Se as pessoas aceitam o crédito é porque podem pagar, elas sabem o que andam a fazer", diziam os banqueiros, os reguladores e até os políticos.
Mas, afinal, ninguém sabia o que andava a fazer.
O problema é que nos habituámos a gastar o dinheiro que não tínhamos.
De exibir a riqueza que não produzíamos.
O cidadão pedia emprestado ao banco; O banco pedia emprestado aos mercados financeiros internacionais e assim fomos caminhando alegremente até aos dias de hoje, quando de repente acordamos do sonho e pensamos no pesadelo.
Há cerca de uma década, que em Portugal se estava a ir longe de mais na concessão de crédito. Vários especialistas alertaram que o País estava endividado; recomendavam que se pusesse um travão na concessão de créditos e muitas foram as vozes que avisaram que se estava a fazer um perigoso negócio de exploração do analfabetismo financeiro dos portugueses, sob a máscara do valor da liberdade individual.
Num mundo globalizado e turbulento, em que já ninguém confia em ninguém, a banca e as instituições financeiras internacionais, os chamados “Mercados”, olham para Portugal com desconfiança.
Olham para as nossas instituições públicas, para as nossas instituições financeiras, para as nossas empresas e para as nossas famílias e interrogam-se:
- “Como é que vão pagar o que nos devem?”
Caro leitor, não desanime, não era essa a minha intenção, irei continuar em próximas crónicas a abordar estes temas e talvez consiga abrir janelas de esperança, que nos ajudem a encontrar o caminho.
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