Alguns dados biográficos:Nome: Esperança. Marca: Dodge Brothers. Matrícula: CH-10-94. Construção: Crysler Corporation Detroit, E.U. América. Ano: 1939. Motor: 6 cilindros em linha. 3919 cc. e 15 cav. Combustível: gasolina. Importação (chassis): SIPA, em 1939. Encarroçamento: H.Vaultier & Cª – Material de Incêndios, em 1940 (foi equipada com um completo conjunto de protecção e combate contra incêndios, incluindo um grupo moto-bomba Magirus e uma agulheta para espuma. Entrada ao serviço: 1940.
Decisão de aquisição: Reunião da Direcção de 18.Jan.1939 (quando da tomada de posse como comandante dos BVE do alferes de Cavalaria, Francisco Valadas Júnior).
Deixou de prestar serviço (por motivos de segurança) em 1968.
No seu registo consta o ano de 1939 como data de 'nascimento' nos EUA e, em Junho desse ano, a sua entrada em Portugal. Em 1940 chegou a Estremoz tendo recebido no baptismo o sugestivo nome de Esperança.
A esperança que nela depositavam as populações quando, em situações aflitivas, aguardavam com ansiedade a sua chegada. É a Dodge Brothers, primeira viatura pronto socorro adquirida pelos Bombeiros Voluntários de Estremoz.
Carregando homens e material ela e a sua inseparável companheira Fé (moto-bomba) iam onde fosse necessário, tanto no concelho de Estremoz como nos limítrofes de Sousel e de Monforte, avisando da sua passagem com o som repenicado e estridente da sua sineta de bordo. O autor destas linhas é um dos que bastantes vezes seguiu nela nas suas deambulações, e na memória tem gravados indelevelmente momentos vividos no combate ao fogo, como por exemplo, numa seara de trigo em Santo Aleixo (Monforte), num estabelecimento comercial na avenida principal em Sousel, nas eiras da vila de Cano, ou na fábrica de cortiças de José 'Pechincha' Sanches, na rua do Mizurado, ali ao lado do quartel, em Estremoz, para só falar destes.
Os anos de trabalho incansável foram deixando marcas e, com a idade e a chegada de outros modernos e mais adaptados meios, como o auto-tanque Chevrolet de 1967 novinho em folha, a Esperança passou para plano secundário e iniciou os primeiros dias do resto da sua vida em caminho acelerado para a sucata. Entrou na 'reforma' em 1968 e o destino foi um antigo barracão emprestado por um empresário local e ali ficou durante anos abandonada e quase esquecida. Em 1983, quando do cinquentenário da fundação dos seus 'donos' ainda participou no desfile e em 1985 acompanhou as suas 'companheiras' no cortejo da mudança para o novo quartel-sede. Todas as outras ali ficaram, mas ela voltou à escuridão do barracão.
Até que em Junho de 2007, o sargento mór (na situação de reforma) José António Ferreira, que comandou o corpo activo dos bombeiros entre 1981 e 1997 cismou que a velhinha Dodge não merecia morrer num qualquer ferro-velho e apresentou um plano para recuperá-la. E o agora vice-presidente da direcção da Associação Humanitária e comandante do Quadro Honorário dos bombeiros, apresentou a ideia com tal entusiasmo, que conseguiu contagiar os restantes elementos do elenco directivo para avançar com o desiderato. E com uma meta bem definida no horizonte: a Esperança regressaria em 2008 nas cerimónias comemorativas das 'Bodas de Diamante' da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Estremoz. Só que chegados aos 75 anos da Associação, com muita pena dos entusiastas pela sua 'cura de rejuvenescimento' a Esperança não estava, ainda, em condições dignas de fazer a sua reaparição.
Por vicissitudes várias esse dia só surgiria em 2010.
No primeiro domingo de Maio, dia 9, a Dodge viajou para Vila Nova de Famalicão onde, garrida e vaidosa, participou no desfile de viaturas clássicas de bombeiros, integrado nas festividades dos 120 anos dos voluntários locais.
E, no seu primeiro desfile a rejuvenescida Esperança foi das mais vibrantemente aplaudidas durante o trajecto, facto que encheu de orgulho os bombeiros Paulo Botas e Joaquim Paulo que, muito ufanos, eram seus tripulantes. Com uma indisfarçável 'pontinha' de vaidade assistiam ao desfile, em representação dos bombeiros estremocenses, o vice-presidente da Direcção (José Ferreira), o comandante do Corpo Activo, Carlos Machado, o 2º comandante do Quadro honorário, Mário Zacarias e o bombeiro João Lopes.
Como dado final refira-se que a Esperança passou pelas mãos dedicadas dos bombeiros Joaquim Paulo 'Jimmy', mecânico da corporação que carinhosamente a foi preparando naquilo que internamente foi possível fazer, do carpinteiro Víctor Santos que lhe restaurou os madeirames da carroçaria e dos utensílios de combate a incêndio, e de muitos outros bombeiros que entusiástica e desinteressadamente, ajudaram no que puderam. Mas a vetusta viatura teve, ainda, que ser submetida no exterior a um tratamento de lifting para lhe corrigir a estrutura e disfarçar algumas rugas. Apesar do muito trabalho a título gracioso de bombeiros e dirigentes, a recuperação ainda ficou em cerca de dez mil euros, angariados a muito custo. Mas valeu a pena. Pois, com a totalidade das suas peças de origem recuperadas, cromados resplandecentes, repintura total de vermelho brilhante a Esperança acordou da sua prolongada letargia e, agora, apesar de passar a maioria dos dias 'encerrada' na cave do quartel-sede, é a coqueluche das suas irmãs e primas mais novas e a menina dos olhos de toda a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Estremoz.
E que linda que ela está.
Decisão de aquisição: Reunião da Direcção de 18.Jan.1939 (quando da tomada de posse como comandante dos BVE do alferes de Cavalaria, Francisco Valadas Júnior).
Deixou de prestar serviço (por motivos de segurança) em 1968.
No seu registo consta o ano de 1939 como data de 'nascimento' nos EUA e, em Junho desse ano, a sua entrada em Portugal. Em 1940 chegou a Estremoz tendo recebido no baptismo o sugestivo nome de Esperança.
A esperança que nela depositavam as populações quando, em situações aflitivas, aguardavam com ansiedade a sua chegada. É a Dodge Brothers, primeira viatura pronto socorro adquirida pelos Bombeiros Voluntários de Estremoz.
Carregando homens e material ela e a sua inseparável companheira Fé (moto-bomba) iam onde fosse necessário, tanto no concelho de Estremoz como nos limítrofes de Sousel e de Monforte, avisando da sua passagem com o som repenicado e estridente da sua sineta de bordo. O autor destas linhas é um dos que bastantes vezes seguiu nela nas suas deambulações, e na memória tem gravados indelevelmente momentos vividos no combate ao fogo, como por exemplo, numa seara de trigo em Santo Aleixo (Monforte), num estabelecimento comercial na avenida principal em Sousel, nas eiras da vila de Cano, ou na fábrica de cortiças de José 'Pechincha' Sanches, na rua do Mizurado, ali ao lado do quartel, em Estremoz, para só falar destes.
Os anos de trabalho incansável foram deixando marcas e, com a idade e a chegada de outros modernos e mais adaptados meios, como o auto-tanque Chevrolet de 1967 novinho em folha, a Esperança passou para plano secundário e iniciou os primeiros dias do resto da sua vida em caminho acelerado para a sucata. Entrou na 'reforma' em 1968 e o destino foi um antigo barracão emprestado por um empresário local e ali ficou durante anos abandonada e quase esquecida. Em 1983, quando do cinquentenário da fundação dos seus 'donos' ainda participou no desfile e em 1985 acompanhou as suas 'companheiras' no cortejo da mudança para o novo quartel-sede. Todas as outras ali ficaram, mas ela voltou à escuridão do barracão.
Até que em Junho de 2007, o sargento mór (na situação de reforma) José António Ferreira, que comandou o corpo activo dos bombeiros entre 1981 e 1997 cismou que a velhinha Dodge não merecia morrer num qualquer ferro-velho e apresentou um plano para recuperá-la. E o agora vice-presidente da direcção da Associação Humanitária e comandante do Quadro Honorário dos bombeiros, apresentou a ideia com tal entusiasmo, que conseguiu contagiar os restantes elementos do elenco directivo para avançar com o desiderato. E com uma meta bem definida no horizonte: a Esperança regressaria em 2008 nas cerimónias comemorativas das 'Bodas de Diamante' da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Estremoz. Só que chegados aos 75 anos da Associação, com muita pena dos entusiastas pela sua 'cura de rejuvenescimento' a Esperança não estava, ainda, em condições dignas de fazer a sua reaparição.
Por vicissitudes várias esse dia só surgiria em 2010.
No primeiro domingo de Maio, dia 9, a Dodge viajou para Vila Nova de Famalicão onde, garrida e vaidosa, participou no desfile de viaturas clássicas de bombeiros, integrado nas festividades dos 120 anos dos voluntários locais.
E, no seu primeiro desfile a rejuvenescida Esperança foi das mais vibrantemente aplaudidas durante o trajecto, facto que encheu de orgulho os bombeiros Paulo Botas e Joaquim Paulo que, muito ufanos, eram seus tripulantes. Com uma indisfarçável 'pontinha' de vaidade assistiam ao desfile, em representação dos bombeiros estremocenses, o vice-presidente da Direcção (José Ferreira), o comandante do Corpo Activo, Carlos Machado, o 2º comandante do Quadro honorário, Mário Zacarias e o bombeiro João Lopes.
Como dado final refira-se que a Esperança passou pelas mãos dedicadas dos bombeiros Joaquim Paulo 'Jimmy', mecânico da corporação que carinhosamente a foi preparando naquilo que internamente foi possível fazer, do carpinteiro Víctor Santos que lhe restaurou os madeirames da carroçaria e dos utensílios de combate a incêndio, e de muitos outros bombeiros que entusiástica e desinteressadamente, ajudaram no que puderam. Mas a vetusta viatura teve, ainda, que ser submetida no exterior a um tratamento de lifting para lhe corrigir a estrutura e disfarçar algumas rugas. Apesar do muito trabalho a título gracioso de bombeiros e dirigentes, a recuperação ainda ficou em cerca de dez mil euros, angariados a muito custo. Mas valeu a pena. Pois, com a totalidade das suas peças de origem recuperadas, cromados resplandecentes, repintura total de vermelho brilhante a Esperança acordou da sua prolongada letargia e, agora, apesar de passar a maioria dos dias 'encerrada' na cave do quartel-sede, é a coqueluche das suas irmãs e primas mais novas e a menina dos olhos de toda a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Estremoz.
E que linda que ela está.
Publicado também no nº738 do Jornal Brados do Alentejo
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