Bonecos de Santo Aleixo na Junta de Freguesia de Santa Maria

Integrada nas Comemorações locais do 25 de Abril e numa iniciativa da Junta de Freguesia de Santa Maria, teve lugar no Salão da Junta, a partir das 21 e 30 horas, uma actuação dos “Bonecos de Santo Aleixo”, títeres tradicionais do Alentejo que parecem ter tido a sua origem na aldeia que lhes deu o nome. Com o Salão literalmente cheio, foi representado por actores do CENDREV - Centro Dramático de Évora, o “Auto da Criação do Mundo”.
Um aspecto da assistência.
Outro aspecto da assistência.
Os actores-manipuladores foram Ana Meira, Gil Salgueiro Nave, Isabel Bilou, José Russo e Vítor Zambujo. O acompanhamento musical esteve a cargo de Gil Salgueiro Nave.
O espectáculo desenrolou-se num retábulo, construído em madeira e tecidos floridos, o qual reproduz um palco tradicional em miniatura com pano de boca, em que se inclui cenários pintados em papelão e iluminação própria (candeia de azeite).
Um aspecto do retábulo onde decorre o espectáculo
O espectáculo pela sua comicidade, pelo seu ritmo e pelo seu cunho popular fez vibrar o público, que ria a bandeiras despregadas e aplaudia com gosto.
No final, José Maria Ginja, o Presidenta da Junta de Freguesia de Santa Maria era um homem feliz. Está pois de parabéns a Junta, por esta iniciativa que foi de agrado popular e que serviu para assinalar os 36 anos da Revolução dos Cravos.
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SOBRE OS BONECOS DE SANTO ALEIXO
(Dum folheto do CENDREV)
"Os “Bonecos de Santo Aleixo” são títeres tradicionais do Alentejo que parecem ter tido a sua origem na aldeia que lhes deu o nome.
São títeres de varão, manipulados por cima, à semelhança das grandes marionetas do Sul de Itália e do Norte da Europa, mas diminutos - de vinte a quarenta centímetros.
Segundo a tradição, o seu “pai” terá sido um certo Nepomucena, guarda de herdades, ao que parece natural de Santo Aleixo, que vendo-se envolvido numa rixa de que resultou a morte de um homem, se refugiou em S. Romão, Vila Viçosa, perto da fronteira com Espanha, dedicando-se aí, para subsistir, ao ofício de “bonecereiro”.
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Adão e Eva
O estojo de bonecos e textos tradicionais, que eram somente transmitidos via oral, chegaram às mãos de Ti’Manel Jaleca através de sua mulher, que os recebeu directamente de seus antepassados.
Manuel Jaleca, que manteve o espectáculo durante algumas décadas, conheceu entretanto António Talhinhas, camponês dotado de grande poder de improvisação e contador, que veio a imprimir grande dinâmica à companhia, acabando por comprar todo o espólio, passando Jaleca a seu empregado.
No entanto parecem não ter sido estes os únicos “Bonecos de Santo Aleixo”. Já em 1798 o Padre Vicente Pedro da Rosa mandara apreender e queimar, defronte da sua casa uns títeres “a que chamavam de Santo Aleixo e em que figurava desonesta e vielmente um Padre Chanca”, no dizer do Padre Joaquim da Rosa Espanca, in “Memórias de Vila Viçosa”.
Os Bonecos que se apresentam no espectáculo foram pertença da família Talhinhas durante cerca de três décadas e a partir de 1967 “dados a conhecer ao mundo culto” por Michel Giacometti e Henrique Delgado.
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Mestre Sala com as Meninas
Por volta dos anos 75 ou 76 e ainda após uma tentativa por parte da Secretaria de Estado da Cultura para revivificar a sua apresentação, Talhinhas viu-se sozinho e impossibilitado de realizar o espectáculo.
Foi somente em 1978 que o projecto de conservação dos Bonecos se pôde concretizar, graças à intervenção da Assembleia Distrital de Évora, que adquiriu o material ao Mestre Talhinhas.
O Centro Cultural de Évora ficou depositário de todo o espólio, e a recolha do repertório iniciou-se em 1980 com os ensaios de “manipulação” e “elocução” dirigidos pelo Mestre, trabalho que foi concluído durante o ano de 1994 com a recolha de todos os textos tradicionais que a excelente memória de Talhinhas conservou.
Os Bonecos de Santo Aleixo, propriedade do Centro Cultural de Évora, são manipulados por uma “família”, constituída por actores profissionais, que garantem a permanência do espectáculo, assegurando assim a continuidade desta expressão artística alentejana.
Conhecidos e apreciados em todo o país, com frequentes deslocações aos locais onde tradicionalmente se realizava o espectáculo, os Bonecos de Santo Aleixo participaram também em muitos certames internacionais (Espanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Grécia, Moçambique, Alemanha, Macau, China, Índia, Tailândia, Brasil, Rússia, México e França) e foram anfitriões da Bienal Internacional de Marionetas de Évora que se realiza desde 1987.
Os Bonecos originais, assim como o restante espólio adquirido a Mestre Talhinhas estão expostos no Teatro Garcia de Resende, enquanto esperam a criação do Museu dos Bonecos, integrado na rede museológica da cidade.
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Retrato da Família
As réplicas actualmente utilizadas nos espectáculos foram fielmente reproduzidas com a preciosa colaboração de Joaquim Rolo, artesão da Aldeia da Glória e velho amigo da família Talhinhas.
A pesquisa de textos foi assegurada por Alexandre Passos que, acompanhado por Manuel da Costa Dias, garantiu também a recolha do reportório na primeira fase. A partir da fixação da nova “família” dos Bonecos, a conclusão da recolha foi assegurada pelos actores que a constituem.
O espectáculo desenrola-se num retábulo, construído em madeira e tecidos floridos, o qual reproduz um palco tradicional em miniatura com pano de boca, em que se inclui cenários pintados em papelão e iluminação própria (candeia de azeite). Os bonecos são realizados em madeira e cortiça, medem entre 20 e 40 centímetros de altura e são vestidos com um guarda-roupa que permite, como no teatro naturalista, identificar as personagens da fábula contada. A música (guitarra portuguesa) e as cantigas são executadas ao vivo. Os textos, transmitidos oralmente, resultam de uma fusão entre a cultura popular e a cultura erudita."

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