EU E O PODER


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CAMINHAR É PRECISO
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Desde sempre me preocupei em aprender, no que tive em conta o pensamento produzido por outros. A simples talhe de foice, faço três citações:
- Padre António Vieira (1608-1697): “Para falar ao vento bastam quatro palavras; para falar ao coração são necessárias obras”.
- Provérbio macua: “Não se assinala o caminho apontando-o com o dedo, mas sim caminhando à frente”.
- Poeta sevilhano António Machado (1875-1939):
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“Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar…”
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CAMINHAR SEMPRE
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Sou dirigente duma associação cultural sedeada em Estremoz, que completou este ano, vinte e sete anos de existência, durante os quais fizemos o caminho que percorremos. Caminho nem sempre fácil, a maioria das vezes, repleto de pedras que fomos guardando. Com elas construímos o nosso próprio castelo.
Nesse caminho, aprendemos a dialogar com o poder local, conscientes de que a cada um de nós cabe o seu papel. Ao poder cabe a implementação de políticas que estejam ao serviço da coisa pública. Às associações culturais cabe a produção de eventos nos quais a comunidade se reconheça.
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O CAMINHO NÃO TEM FIM
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Ciclicamente, de quatro em quatro anos, a natureza do poder muda ou não muda e com ele o ritmo do percurso do caminho que percorremos. Em vinte e sete anos de caminho somos levados a reconhecer que o poder nem sempre é igual. Umas vezes a nível de Presidente da Câmara e de Vereador do Pelouro da Cultura, existe sensibilidade e capacidade de diálogo com as Associações. Outras nem tanto, outras mesmo nada. Como diria Lenine (1870-1924): “Que fazer?”. A resposta só pode ser uma: “Caminhar, descobrindo então o nosso próprio caminho.”
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O CAMINHO CONTINUA
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Nas últimas eleições autárquicas ocorreu em Estremoz uma mudança de paradigma. As eleições foram ganhas pelo MIETZ – Movimento Independente por Estremoz, que pregou uma partida aos partidos tradicionais. Homens e mulheres, velhos e novos, tradicionalistas e alternativos, crentes e descrentes, de direita ou de esquerda, monárquicos ou republicanos, deram a vitória ao MIETZ. Tudo leva a crer que pela descrença nos partidos tradicionais e pela dinâmica gerada pelo carisma e pelo populismo de Luís Mourinha.
É esse o poder que temos. É com ele que fazemos o nosso caminho. Cada um no seu papel.
O meu relacionamento com Luís Mourinha, para além do aspecto meramente institucional, é coloquial e fraternal, o que vem desde os bancos da Escola, em que eu fui seu professor e ele meu aluno. Com o resto dos membros do executivo, o meu relacionamento tem sido igualmente fácil e pautado por grande cordialidade em interacções que temos tido na área cultural.
Decorrido um ano de exercício do poder, num período de crise económica profunda, a minha opinião pessoal é a de que é positivo o saldo do balanço da actividade autárquica desenvolvida pela equipa liderada por Luís Mourinha. Todavia não sou ingénuo e sei que alguns daqueles que falam “politiquez”, pensam exactamente o contrário. Estão no exercício do seu direito de opinião e decerto que lá terão as suas razões, que não serão necessariamente coincidentes com as opiniões dos outros.
A prova real desse balanço será feita daqui a três anos, através do exercício do direito de sufrágio pelos munícipes. E nessa prova real contará pouco o “politiquez”, porque os eleitores perceberam há um ano que é possível fazer caminhadas comuns, de livre vontade e sem constrangimentos, com pessoas que pensam diferentemente umas das outras, mas que são capazes de se respeitar. Nessa altura, poderemos então falar em balanço global. Creio que a maioria continuará a sufragar o MIETZ. Se me enganar nessa previsão, estou disposto a reconhecê-lo aqui publicamente.
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Publicado também no jornal ECOS, nº 95 (4-11-2010)

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