Em Estremoz, ao contrário do que parece, a Mata não é uma escola, ainda que haja escolas da Mata, assim chamadas por causa da Mata que, no entanto, já existia para lhes dar o nome. É caso para dizer que o grande contributo que retiramos da Mata Municipal de Estremoz é mesmo o nome da escola e do bairro. Era bom que não fosse assim.
Desprezada por sucessivos executivos, a Mata é agora um lugar descuidado e desolador que, conservando a beleza resistente das árvores, a memória de alguns recantos, os caminhos, não vai resistindo ao abandono. É verdade que já não cultivamos em Estremoz aquele prazer de embelezar a cidade que caracteriza outras e que, se existiu entre nós, já não o vamos lembrando. Mostra-o a displicência com que se ignoram as chamadas de atenção para o estado lamentável de desleixo das nossas ruas e praças, selvagens relvados, num triste divórcio entre a vontade dos que têm a competência e o dever de conter esse desalinho e a vontade e direito dos estremocenses de viverem na sua cidade limpa e cuidada e de a mostrarem assim a quem os visita (mas isso, que importa?).
Porque abandonada por quem a devia cuidar, a Mata passou a ser tida por muitos como um lugar perigoso e refúgio para a prática de actividades ilícitas e outras que também se não querem públicas. Os estremocenses não frequentam a Mata Municipal e não usufruem daquele espaço. A Mata é praticamente deserta de pessoas e os circuitos de manutenção e parque infantil que ali foram sendo instalados nunca tiveram por parte da população uma utilização efectiva, o que só se compreende porque essas tentativas de dotar a Mata de alguns equipamentos que, de facto, seriam interessantes para um lugar com aquelas características, apareceram como medidas avulsas, quando seria adequado um conjunto integrado de medidas que levassem as pessoas até esses equipamentos e à Mata.
É precisa vigilância na Mata. É precisa iluminação. É preciso dinamizar de forma sistemática um conjunto de actividades para aquele lugar, sejam elas desportivas, culturais ou de mero convívio. É preciso cuidar das árvores e das plantas. É preciso florir a Mata, alindar os recantos existentes (lugares esplêndidos para uma serena leitura), recuperar o lago. É preciso arranjar os caminhos e pô-los à disposição dos muitos estremocenses que aderiram à saudável moda das caminhadas. Eu diria até que era fantástico poder ter na Mata um quiosque com uma esplanada onde nos pudéssemos sentar a ler um livro ou o jornal, a conversar ou pura e simplesmente a vigiar as crianças nas suas brincadeiras, enquanto se toma um café ou uma água, enquanto se faz um lanche. Mas isso, talvez seja pedir demais.
A Mata ali está, à espera que a devolvam aos estremocences, lugar fantasma à espera que o façam lugar fantástico.
Ivone Carapeto
Ivone Carapeto
Foi publicado no Jornal E, nº7, de 29/07/2010
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