Uma das causas que mais comummente é apresentada para justificar o atraso relativo de Portugal face aos demais países da União Europeia é a produtividade. São muitos os que fazem coro dizendo que enquanto a nossa produtividade se mantiver em 2/3 da média europeia jamais poderemos almejar um nível de vida comparável ao daqueles que nos servem de referência. Depreende-se, portanto, que a nosso aparelho produtivo não é eficiente, ou seja, que não só temos de produzir mais como, sobretudo, que temos que produzir melhor. Certo? Bom… não vou dizer "errado" mas posso assegurar que esta abordagem também não está completamente certa. Hoje vou procurar desfazer este equívoco que nos persegue.
Vou fazê-lo de duas formas: (1) começando por também fazer coro com os demais dizendo que com esta produtividade não vamos lá…; e (2) depois tentarei demonstrar que, afinal, a nossa produtividade, não sendo óptima, também não é assim tão má. Confuso? Se sim considere-se uma pessoa normal. Esta realidade é complexa; explicá-la ainda o é mais.
Antes de mais clarifiquemos conceitos. A produtividade é um indicador que se obtém relacionando a Valor Acrescentado Bruto (VAB), no numerador, com a força de trabalho em unidades físicas, no denominador. Todavia este indicador não diz que um trabalhador português produz menos que qualquer outro da União Europeia. Diz sim que aquilo que produz vale menos. Aliás, se a relação do VAB for feita com os custos do factor trabalho verificamos algo, aparentemente, paradoxal: a nossa produtividade física – ou seja aquela que relaciona os produtos e serviços criados com a força de trabalho – está até bem próxima da média europeia.
Chegados aqui, pergunta-se porque é o nosso VAB menor: porque os nossos produtos têm menor qualidade? Também não é por aí. Posso inclusivamente garantir que há produtos portugueses comercializados na Oxford Street, em Londres, por um valor 5 vezes superior ao seu custo à saída da fábrica, em S. João da Madeira. Só há um pormenor: não há nada naqueles produtos que os identifique como portugueses, já que são vendidos com marcas comerciais inglesas de estabelecimentos de referência. Mais: se tais produtos, calçado por exemplo, passarem antes por Itália e lá for gravado um logótipo de uma prestigiada marca industrial italiana, então nesse caso já é admissível que o valor de venda junto do consumidor final atinja 10 vezes mais que o valor à saída da fábrica. Como podemos ver, no primeiro caso, o VAB gerado pelos comerciantes ingleses é 4 vezes maior que o gerado pelos industriais portugueses; e, no segundo caso, o VAB de ingleses e italianos é 9 vezes superior ao nosso.
Qual é então a causa maior da nossa reduzida produtividade económica? A resposta é esta: a falta de prestígio internacional de Portugal. No mundo somos conhecidos de duas formas: pela epopeia marítima dos séculos XV e XVI e… pelo Figo e pelo Ronaldo. Nenhuma destas visões confere valor aos nossos produtos.
Notas:
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