A Inevitabilidade do €uro


O Economês descomplicado

Esta coluna, tem como objectivo ajudar a entender, temas económicos que marcam a actualidade, que mexem com as nossas vidas e que por vezes são difíceis de entender.

“Se a actual crise do euro não significar o fim da moeda única, andará lá perto. Pelo menos, representará o último capítulo de uma fase de lançamento cheia de promessas mas, também, de ilusões, imprudência e riscos subestimados.”
Esta frase proferida por um reputado economista europeu, reflecte bem o grau de incerteza e de descrença a que se chegou, relativamente ao futuro da moeda única europeia.
O leitor de certo já se interrogou várias vezes desde o seu aparecimento:
Que vantagens trouxe o euro para Portugal?
Ao aderir ao euro em 1999, Portugal aderiu a uma união monetária de moeda forte, dirigida por um banco (Banco Central Europeu) controlado pela Alemanha, como país motor da economia da zona euro, deixando os países aderentes a partir dessa data, de terem controlo efectivo sobre a política monetária e cambial dos seus países, e consequentemente, deixando de poder controlar a emissão de moeda, as taxas de juro e a taxa cambial.
A adesão significava também, a abertura de novos mercados e a simplificação das transacções entre países.
Perdeu-se soberania; Ganhou-se mercado.
De imediato, Portugal beneficiou de taxas de juro baixas e de uma moeda forte.
Em contrapartida, Portugal deveria tornar-se mais competitivo, modernizar a sua economia e aumentar as exportações, tornando-se menos dependente do exterior.
Mas falhámos!
Passada uma década desde a adesão ao euro, Portugal não conseguiu tornar-se competitivo. Continuamos a comprar muito mais ao estrangeiro do que aquilo que lhes vendemos. O euro como moeda forte contribuiu para este problema, pois a relação cambial encarece o que exportamos, e logo, dificulta a vida às empresas exportadoras, tornando mais barato o que importamos, o que nos torna mais dependentes do exterior, mais endividados, e logicamente mais pobres.
Só temos um caminho! Apostar na produção nacional e no sector exportador.
Invertermos a tendência! Vender mais ao exterior, e em contrapartida comprar menos.
Os apoios e investimentos públicos devem concentrar-se nas exportações, investindo nos chamados bens transaccionáveis (que se vendem nos mercados internacionais).
Devemos abandonar a política da obra pública de fachada, do betão, dos projectos megalómanos, que não geram riqueza, mas sim encargos para as gerações futuras.
Passada uma década, começa a falar-se demasiado no fim do euro.
Para além dos eurocépticos que nunca quiseram embarcar no euro, também os europeístas convictos por um lado e os subsídios dependentes de países como o nosso, por outro lado, estão muito desiludidos com a moeda única.
Mas sair, causaria uma turbulência financeira de consequências inimagináveis.
Imagino que teríamos um choque brutal e imediato de desvalorização monetária, porque de certo não iríamos retomar o escudo com o valor com que o deixámos em 1999, e por isso, tudo nos sairia mais caro, inclusivamente a dívida externa que deveria aumentar na proporção directa da desvalorização da nossa moeda.
Ficaríamos então ainda mais pobres e mais endividados.
Perante a inevitabilidade do euro, o caminho a seguir é estreito, mas passa seguramente por trabalhar com mais produtividade e consumir com menos endividamento.

Publicado também no jornal ECOS, edição de 18/06/2010

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