Fotografia de João Albardeiro
O filósofo, escritor e professor António Telmo faleceu no passado sábado, dia 21 de Agosto, ao princípio da manhã, no Hospital de Évora. O seu funeral realizou-se no domingo, dia 22, em Estremoz. Com o seu óbito, a Cultura e a Filosofia Portuguesas ficaram mais pobres. Estremoz perdeu um filho adoptivo, intelectual de prestígio, com obra e nome firmados a nível planetário.
António Telmo era um filólogo e um hermeneuta, envolvido no esoterismo e no hermetismo, na procura daquilo que está oculto e que pode ser revelado e desvendado. E fê-lo, sobretudo, através do estudo da kabbalah, do sufismo e da filosofia. Era visto como o maior representante vivo do grupo do movimento da “Filosofia Portuguesa” fundado por Álvaro Ribeiro.
Para António Telmo, a reflexão filosófica deve ser exercida informalmente, livre dos grilhões da Academia, pelo que acreditava que aprendeu muito mais nas tertúlias de café do que nas salas de aula da Universidade.
A obra de António Telmo é caracterizada pela importância conferida à palavra e à linguagem, através das quais, segundo o autor, se pode aceder a regiões mais profundas do conhecimento e da espiritualidade.
António Telmo defendia, igualmente, a originalidade do pensamento português, ligado ao conceito de portugalidade, a um patriotismo de raiz mística, à tradição cultural e à poesia.
António Telmo Carvalho Vitorino nasceu a 2 de Maio de 1927, em Almeida, de onde saiu com dois anos de idade, a caminho de Angola. Regressou a Portugal com seis anos, para Alter do Chão. Daqui vai para Arruda dos Vinhos, onde permaneceu até aos dezasseis. Da Arruda mudou-se para Sesimbra, onde ficou até ir para Lisboa, frequentar a Universidade. Na sua infância e juventude, foi um autodidacta, pois estudava em casa e fazia os exames em Lisboa.
Aos vinte e três anos, entrou para o grupo da Filosofia Portuguesa, depois de ter travado conhecimento com José Marinho (1904-1975), Álvaro Ribeiro (1905-1981), Agostinho da Silva (1906-1994) e Eudoro de Sousa (1911-1987).
Por convite destes dois últimos, no início dos anos 60 foi professor de Literatura Portuguesa, durante três anos, na Universidade de Brasília. De lá foi para Granada e, só depois, é que regressou a Portugal. Foi director da Biblioteca de Sesimbra e posteriormente fixou-se em Estremoz onde leccionou Português na Escola Preparatória Sebastião da Gama, continuando a publicar livros com regularidade.
Discípulo de Agostinho da Silva, António Telmo lega-nos uma extensa obra:
- Arte Poética, Lisboa, Guimarães, 1963.
- História Secreta de Portugal, Lisboa, Vega, 1977.
- Gramática secreta da língua portuguesa, Lisboa, Guimarães, 1981.
- Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões, Lisboa, Guimarães, 1982.
- Filosofia e Kabbalah, Lisboa, Guimarães, 1989.
- O Bateleur, Lisboa, Átrio, 1992.
- Horóscopo de Portugal, Lisboa, Guimarães, 1997.
- Contos, Lisboa, Aríon, 1999.
- O Mistério de Portugal na História e n’ Os Lusíadas, Lisboa, Ésquilo, 2004.
- Viagem a Granada, Lisboa, Fundação Lusíada, 2005.
- Contos Secretos, Chaves, Tartaruga, 2007.
- A Verdade do Amor, seguido de Adoração: Cânticos de amor, de Leonardo Coimbra, Lisboa, Zéfiro, 2008.
- Congeminações de um neopitagórico, Vale de Lázaro, Al-Barzakh, 2006/ Lisboa, Zéfiro, 2009.
- A Aventura Maçónica, Lisboa, Zéfiro, 2010.
- Luís de Camões, Estremoz, Al-Barzakh, 2010.
- O Portugal de António Telmo, Lisboa, Guimarães, 2010.
À família enlutada apresentamos as nossas mais sentidas condolências.
Publicado também no nº 91 (3-9-2010) do Jornal ECOS