ANTÓNIO TELMO (1927-2010)

ANTÓNIO TELMO (1927-2010)
Fotografia de João Albardeiro

O filósofo, escritor e professor António Telmo faleceu no passado sábado, dia 21 de Agosto, ao princípio da manhã, no Hospital de Évora. O seu funeral realizou-se no domingo, dia 22, em Estremoz. Com o seu óbito, a Cultura e a Filosofia Portuguesas ficaram mais pobres. Estremoz perdeu um filho adoptivo, intelectual de prestígio, com obra e nome firmados a nível planetário.
António Telmo era um filólogo e um hermeneuta, envolvido no esoterismo e no hermetismo, na procura daquilo que está oculto e que pode ser revelado e desvendado. E fê-lo, sobretudo, através do estudo da kabbalah, do sufismo e da filosofia. Era visto como o maior representante vivo do grupo do movimento da “Filosofia Portuguesa” fundado por Álvaro Ribeiro.
Para António Telmo, a reflexão filosófica deve ser exercida informalmente, livre dos grilhões da Academia, pelo que acreditava que aprendeu muito mais nas tertúlias de café do que nas salas de aula da Universidade.
A obra de António Telmo é caracterizada pela importância conferida à palavra e à linguagem, através das quais, segundo o autor, se pode aceder a regiões mais profundas do conhecimento e da espiritualidade.
António Telmo defendia, igualmente, a originalidade do pensamento português, ligado ao conceito de portugalidade, a um patriotismo de raiz mística, à tradição cultural e à poesia.
António Telmo Carvalho Vitorino nasceu a 2 de Maio de 1927, em Almeida, de onde saiu com dois anos de idade, a caminho de Angola. Regressou a Portugal com seis anos, para Alter do Chão. Daqui vai para Arruda dos Vinhos, onde permaneceu até aos dezasseis. Da Arruda mudou-se para Sesimbra, onde ficou até ir para Lisboa, frequentar a Universidade. Na sua infância e juventude, foi um autodidacta, pois estudava em casa e fazia os exames em Lisboa.
Aos vinte e três anos, entrou para o grupo da Filosofia Portuguesa, depois de ter travado conhecimento com José Marinho (1904-1975), Álvaro Ribeiro (1905-1981), Agostinho da Silva (1906-1994) e Eudoro de Sousa (1911-1987).
Por convite destes dois últimos, no início dos anos 60 foi professor de Literatura Portuguesa, durante três anos, na Universidade de Brasília. De lá foi para Granada e, só depois, é que regressou a Portugal. Foi director da Biblioteca de Sesimbra e posteriormente fixou-se em Estremoz onde leccionou Português na Escola Preparatória Sebastião da Gama, continuando a publicar livros com regularidade.
Discípulo de Agostinho da Silva, António Telmo lega-nos uma extensa obra:
- Arte Poética, Lisboa, Guimarães, 1963.
- História Secreta de Portugal, Lisboa, Vega, 1977.
- Gramática secreta da língua portuguesa, Lisboa, Guimarães, 1981.
- Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões, Lisboa, Guimarães, 1982.
- Filosofia e Kabbalah, Lisboa, Guimarães, 1989.
- O Bateleur, Lisboa, Átrio, 1992.
- Horóscopo de Portugal, Lisboa, Guimarães, 1997.
- Contos, Lisboa, Aríon, 1999.
- O Mistério de Portugal na História e n’ Os Lusíadas, Lisboa, Ésquilo, 2004.
- Viagem a Granada, Lisboa, Fundação Lusíada, 2005.
- Contos Secretos, Chaves, Tartaruga, 2007.
- A Verdade do Amor, seguido de Adoração: Cânticos de amor, de Leonardo Coimbra, Lisboa, Zéfiro, 2008.
- Congeminações de um neopitagórico, Vale de Lázaro, Al-Barzakh, 2006/ Lisboa, Zéfiro, 2009.
- A Aventura Maçónica, Lisboa, Zéfiro, 2010.
- Luís de Camões, Estremoz, Al-Barzakh, 2010.
- O Portugal de António Telmo, Lisboa, Guimarães, 2010.

À família enlutada apresentamos as nossas mais sentidas condolências.

Publicado também no nº 91 (3-9-2010) do Jornal ECOS

As Bruxas Que Temos

Foto do DIÁRIO DE NOTÍCIAS

Quando uma palmeira cai em sentido contrário à sua inclinação, desafiando acintosamente a lei da gravidade em fenomenal e imprevisível trajectória, à falta de tempo para credível explicação, temos bruxaria. O Presidente do Município de Porto Santo disse, a quente, que a palmeira que vitimou três pessoas na rentrée politica do PSD Madeira, causando uma morte e dois feridos graves, não obstante pender para um lado, caiu para o oposto. Retratou-se depois. A palmeira, já inclinada, portou-se exactamente como era previsível, apenas não cumprindo o destino que o poeta deu às árvores, que é aquele de morrerem de pé.
Alberto João Jardim, no estilo que lhe conhecemos, falou em bruxas ao seu povo e pediu-lhe para rezar. De caminho, foi avisando alguns órgãos de comunicação social que não queria “demagogia” sobre este episódio, fazendo-a.
O desembaraço com que Alberto João antecipa e liquida a crítica ainda por fazer não esconde o essencial: podia ter sido evitado? Em caso afirmativo, devia ter sido evitado. Não basta invocar o azar e fazer tábua rasa da responsabilidade. Azar foi a queda da palmeira ocorrer durante um comício que, levando mais pessoas ao local, aumentou a probabilidade de a árvore cair em cima de alguém. Tivesse a árvore desfalecido, tombando sozinha sem vítimas e, muito provavelmente, nem teríamos dado por ela. Mas ela estava lá, há muito tempo contorcida, avisando que ia cair, dando os sinais que podia para que alguém fosse constatar que, afinal, as suas raízes estavam podres. Visto assim, não houve só azar, mas desleixo e negligência.
Não cabe ao cidadão comum ir fazer biopsias ás árvores, avaliar a segurança de pontes ou demais edifícios para depois sair à rua confiante de que não lhe cairão em cima ou desaparecerão debaixo dos pés. Cabe aos governantes, locais, regionais e nacionais, de acordo com as suas competências, assegurar a segurança das pessoas, realizando tudo o que necessário for e utilizando os instrumentos ao seu dispor para salvaguardar esse fim. Feito esse trabalho, sobrará ainda uma margem para o azar, que é coisa da vida, e aí falaremos de bruxas, que as há, existam ou não.
É tempo de os governantes se interrogarem sobre a origem e os fins do poder que lhes foi posto nas mãos. Vem do povo e deve servir o povo. Qualquer desvio desse trilho é ilegítimo e, no limite, é abuso de poder que deve ser penalizado, sem chiliques e sem dúvidas.
Ivone Carapeto
Foi publicado no Jornal de Estremoz E, nº 9, de 26/08/2010